Livraria 18 de Abril

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Bom senso e liberdade

   

Conta-se que dois homens caminhavam lado a lado. Um era jovem, trazia consigo os sinais da inexperiência. Tinha olhos vivos e atentos a tudo, como quem quer aspirar a vida em um só fôlego.

Desejava modificar o mundo, revolucionar sua época, ensinar o muito que julgava saber.

O outro trazia no semblante as marcas do tempo e já não queria tomar o mundo, contentava-se em aprender um pouco, aqui e ali, analisando, sereno, as experiências que a vida lhe apresentava.

Tampouco desejava deixar suas marcas nos homens e nas coisas que o rodeavam. Não queria discípulos, nem seguidores, e não pretendia modificar ninguém, a não ser a si próprio.

Era cego de nascença. Porém, apesar de ter os olhos do corpo fechados, possuía abertos os da alma.

Vinham em silêncio quando o jovem, surpreso, exclamou: uma pipa!

Uma pipa no céu!

Por que está tão alegre em vê-la, ainda que distante?

Perguntou o cego.

É que toda vez que vemos uma pipa, uma só idéia nos assalta a alma: a idéia da liberdade e, qual de nós não valoriza a possibilidade de sentir-se livre? Disse o jovem.

Liberdade?

Questionou o homem. Estranho, para mim a pipa tem outro significado.

Outro significado? Como? Sabe o que é uma pipa?

Sim, meu amigo, eu sei o que é uma pipa, papagaio, pandorga, como queira chamar.

Pois a imagem desse objeto me traz à mente a idéia de responsabilidade e bom senso.

Não entendo... disse o jovem.

E o homem falou com sabedoria: o exercício da liberdade é complexo e fundamental em nossas vidas.

Todavia, como você pode perceber, a pipa tem uma liberdade muito relativa, graças ao fio no qual está presa.

Por vezes, o desejo de liberdade nos faz ver as coisas de um ponto de vista muito acanhado e perdemos a noção de limites.

Muitas pessoas acreditam ter liberdade ilimitada, mas estão presas ao chão pelos fios invisíveis dos vícios de toda ordem.

Há aqueles que estão presos aos bens transitórios do mundo, como se fossem pássaros cativos em gaiolas de ouro.

Há os que não conseguem romper com os fios do orgulho e do egoísmo, que os impedem de alçar o vôo definitivo, rumo à liberdade.

Os que não conseguem desatar os nós prejudiciais do desejo de posse sobre familiares e amigos, amargando séculos de infelicidade.

Há aqueles que estão presos pelas correntes poderosas da prepotência, do preconceito, da ambição desmedida, dos desejos sexuais desenfreados.

Dessa maneira, meu jovem, muitas vezes os olhos nos enganam. Não basta enxergar, é preciso ver além.

É preciso perceber que sem romper com os vícios que nos prendem ao solo, a liberdade é impossível.

Foi por essa razão que Jesus, o grande Sábio da humanidade afirmou: "conhecereis a verdade e a verdade vos fará livres".

Conhecendo e reconhecendo a sua destinação divina, a sua condição de filhos da luz, os homens farão esforços para cortar as amarras que os retém em mundos inferiores, para alçar o vôo definitivo da liberdade sem limites.

Eis, meu filho, a minha maneira de ver o que significa realmente a liberdade.

O jovem deu o braço ao cego, calou-se, e, em silêncio, entregou-se a profundas reflexões.

Pense nisso!

O limite da liberdade encontra-se inscrito na consciência de cada pessoa, através das leis divinas.

Assim sendo, é dever de cada ser humano libertar-se do cárcere de sombra e dor, da prisão sem barras em que se mantém, e desenvolver as asas de luz das virtudes que lhe possibilitarão o vôo definitivo da liberdade sem limites.

Pensemos nisso!

Equipe de Redação do Momento Espírita, com base em texto cuja autoria nos é desconhecida.