Livraria 18 de Abril

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Fé e confiança

   

Martin Gouveia, jovem ainda, tinha o hábito de invadir residências descuidadas, levando o que pudesse, sem nunca cair nas mãos das autoridades.

Aquela noite espreitara atentamente uma casa fechada onde parecia não haver ninguém.

Sorrateiramente saltou o muro do pátio, forçou a porta de serviço e entrou na residência. Passou pela cozinha e seguiu para o interior. Procurou um dos aposentos onde esperava encontrar maiores valores, e empurrou levemente a porta.

Nisso, ouviu alguém respirando com dificuldades...

Julgando ser uma pessoa que dormia, ressonando, avançou. Mas admirado viu um vulto sobre o leito, e imediatamente levou a mão ao punhal. Ouviu, nesse instante, uma voz débil e entrecortada, de um homem que o fixou na penumbra.

O desconhecido estendeu os braços e falou sob forte emoção:

- Ah! Graças a Deus!

Você escutou meus gemidos, filho?

- Foram os espíritos!

Você é um enviado dos mensageiros divinos!...

Martin, surpreendido, abandonou a arma.

Aproximou-se do velhinho que pôde, agora, distinguir sob a tênue claridade da lua que entrava pela vidraça.

O ancião repetiu maravilhado:

- Graças a Deus! Meu filho, necessito muito de você...

Sou paralítico e sem ninguém...

- Não tenho forças para gritar... Há muito tempo não recebo visitas. Você me escutou...

Depois de uma pequena pausa prosseguiu:

- Traga-me um remédio...

Sinto muita falta de ar... Leia alguma coisa que me conforte... para eu não morrer só...

Você é um enviado dos espíritos, eles ouviram as minhas preces.

E porque o enfermo lhe oferecesse um livro, Martin, compadecido, acendeu a luz e se dispôs a ler, emocionado...

Era um exemplar de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", ensebado de suor e de lágrimas.

O hóspede imprevisto leu e leu até a madrugada e, desde aquele instante desistiu dos assaltos e furtos.

Dedicou-se a cuidar do velhinho, administrando-lhe remédios, prestando-lhe assistência e lendo para ele os livros de sua predileção.

Depois de cinco meses o enfermo faleceu em clima de paz, deixando-lhe os bens como herança e a alma renovada pelos exemplos de fé nos espíritos superiores.

Uma fé capaz de modificar a própria situação de penúria e atrair um jovem equivocado para o refazimento do caminho.

Fé suficiente para neutralizar a violência atrevida que lhe invadira o lar.

Fé que não vacilou diante do invasor que, certamente, não estava ali por acaso, mas guiado por mãos invisíveis que sabiam o desfecho da história por conhecerem a intimidade dos dois.

No nosso dia-a-dia várias situações se apresentam justamente para que possamos ajudar aqueles que conosco convivem, ou, que simplesmente cruzam o nosso caminho.

Você sabia?

Que a história que contamos foi ditada por um espírito desencarnado que se chama Hilário Silva?

A mensagem foi recebida pelo médium espírita Francisco Cândido Xavier e está inserida no livro "Ideal Espírita".

E você sabia que os espíritos superiores se interessam imensamente pelo nosso progresso intelectual e moral?

Basta que consultemos os vários livros ditados por eles através de médiuns sérios, e chegaremos a essa conclusão.

(Do livro: Ideal Espírita, ed. CEC.)