A esperança viva
Meu nome é esperança...
Sorrio para você desde a sua entrada na vida...
Sigo-lhe os passos e não o deixo senão nos mundos onde se realizam as promessas de felicidade, incessantemente murmuradas aos seus ouvidos.
Sou sua fiel amiga. Não repila minhas inspirações...
Eu sou a esperança.
Sou eu que canto através do rouxinol e que solto aos ecos das florestas essas notas lamentosas e cadenciadas que lhe fazem sonhar com o Céu...
Sou eu que inspiro à andorinha o desejo de aquecer seus amores no abrigo seguro da sua morada...
Brinco na brisa ligeira que acaricia os seus cabelos e espalho aos seus pés o suave perfume das flores dos canteiros... e você quase não pensa nessa amiga tão devotada!
Não me despreze: sou a esperança!
Tomo todas as formas para me aproximar de você...
Sou a estrela que brilha no azul e o quente raio de sol que o vivifica...
Embalo as suas noites com sonhos ridentes e expulso para longe as negras preocupações e os pensamentos sombrios.
Guio seus passos para o caminho da virtude e o acompanho nas visitas aos pobres, aos aflitos, aos moribundos e lhe inspiro palavras afetuosas e consoladoras.
Não me esqueça...
Eu sou a esperança!
Sou eu que, no inverno, faço crescer, na casca dos carvalhos, o musgo espesso com que os passarinhos fazem seus ninhos.
Sou eu que, na primavera, corôo a macieira e o pessegueiro de flores rosas e brancas e as espalho sobre a terra como um sopro celeste, que o faz aspirar a mundos mais felizes.
Estou com você, principalmente quando é pobre e sofredor, e minha voz ressoa incessantemente aos seus ouvidos.
Não me despreze... Eu sou a esperança.
Não me repila, porque o anjo do desespero faz guerra encarniçada e se esforça para, junto de você, tomar o meu lugar.
Nem sempre sou a mais forte. E quando o desespero consegue me afastar, envolve-o com suas asas fúnebres, desvia os seus pensamentos de Deus e o conduz ao suicídio.
Una-se a mim para afastar sua desastrosa influência e deixe-se embalar docemente em meus braços...
Porque eu sou a esperança...
***
Um dia, um Homem Sublime abandonou, por algum tempo, um jardim de estrelas para nascer na Terra e depositar nas almas as gemas preciosas da esperança...
E, nestes dias de inquietação e desassossego, Ele continua sendo a esperança que reergue os espíritos e a paz que penetra os corações.
Ainda hoje, o Mestre de Nazaré é a grande esperança que se tornou realidade.
(Revista Espírita, fev/1862 pág. 55 - A Esperança)