Livraria 18 de Abril

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Papai não morreu

   

Aquele fora um dia diferente...

A tarde caía rápida e fria e o vento na folhagem amarelada anunciava que a chegada do inverno estava próxima.

Mateus, era um garoto de dez anos e se acostumara às alegrias descontraídas de sua pequena família, composta pelos pais e uma irmã mais nova que com ele compartilhava das brincadeiras infantis.

Mas a vida nem sempre nos reserva surpresas agradáveis. Era isso que Mateus descobrira naquele dia em que contemplava o corpo do pai, a quem tanto amava, estendido num caixão sobre a mesa.

Todos enxugavam o pranto, mas ele tinha nos olhos grossas lágrimas que se recusavam a cair.

Nunca havia experimentado um sentimento igual. Era como se algo dentro do seu coraçãozinho tivesse se partido em mil pedaços.

O enterro foi consumado...

A vida deveria seguir seu curso, mas em seu lar faltava alguém. Faltava a figura respeitável do pai amado.

Sobrava um lugar à mesa. Sobrava o pedaço de frango predileto do papai. O pudim se demorava na geladeira.

E Mateus pensava em como suportaria tanta amargura e saudade.

No entanto, a volta às aulas, às brincadeiras com a irmã, os piqueniques, as tardes no parque, trouxeram novo alento ao seu coração juvenil.

Um dia, a visita de uma amiga da família trouxe de volta as lembranças tristes.

A mãe falava da falta que sentia do companheiro. Dizia que a saudade lhe acompanhava de perto e que era difícil a vida depois que o marido morrera.

E Mateus que, não muito longe escutava a conversa das amigas, aproximou-se e disse com a segurança de quem tem certeza:

- Mamãe, você disse que o papai morreu, mas eu asseguro que isso não é verdade.

A mãe olhou-o com ternura e desejando consolá-lo, disse:

- Sim filho, o papai vive além da cortina que nos separa dele momentaneamente.

- Não, mamãe! O papai vive e viverá para sempre.

- Ele vive em mim através de tudo o que me ensinou...

- Quando sou obediente, eu o sinto em minha intimidade porque foi ele quem me ensinou a obedecer.

- Quando sou honesto, lembro-me das muitas vezes que ele enalteceu a honestidade.

- Quando perdôo meus amigos, quase o ouço dizer: "filho, quem perdoa não adoece porque não guarda o lixo da mágoa na intimidade.

- Quando sinto que a inveja deseja instalar-se em minha alma, lembro-me de ter ouvido de seus lábios: "a inveja é um ácido corrosivo que prejudica quem a alimenta."

- E quando, por fim, meu coração se enche de saudade e penso que não mais a suportarei, uma suave brisa perpassa meu ser e ouço sua voz falando baixinho: "filho, eu estou ao seu lado, não duvide".

- E é assim, mãezinha, que eu sei que papai não morreu. Sinto que ele continua vivo, não somente atrás da cortina que temporariamente nos separa, mas também através da herança de amor que legou a todos nós.

Pense nisso!

Quem deseja plantar apenas por alguns dias, planta flores...

Quem deseja plantar para alguns anos ou séculos, planta árvores.

Mas quem quer plantar para a eternidade, planta idéias nobres nos corações daqueles a quem ama.

Pense nisso!

Redação do Momento Espírita