Livraria 18 de Abril

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A sabedoria do ministro

   

Existia, em uma terra distante, um rei e seu primeiro ministro.

O rei era justo e bondoso. O primeiro ministro era um homem bom e sábio, e sempre dizia que a felicidade reinava porque existia um Deus bom e justo, que sempre fazia o que era melhor para todos. O rei seguia os passos de sabedoria do seu primeiro ministro que sempre dizia: "tudo que Deus faz é bom..."

Essas eram sempre as palavras que faziam com que o rei fosse sensato e bondoso para com os seus súditos.

O rei tinha dois passatempos diários. Um deles era trabalhar com madeira, fazendo talhas e esculturas e o outro era cavalgar pela floresta todas as manhãs, em companhia de seu primeiro ministro.

Enquanto cavalgavam, os dois conversavam sobre os mistérios da vida. O rei sempre procurava explicações para suas aflições e nessas saídas diárias, em companhia de seu sábio primeiro ministro, ele encontrava conforto para seu coração, muitas vezes cheio de dúvidas e preocupações.

Um dia, o rei estava trabalhando em sua oficina, serrando madeira, quando, inesperadamente, a serra decepou seu dedo indicador. Desesperado e aflito, mandou chamar seu primeiro ministro. Tinha esperança de que ele pudesse explicar o motivo pelo qual Deus havia permitido que o acidente acontecesse com ele, uma pessoa boa, justa e honesta.

Porém, para surpresa do rei, o primeiro ministro, em vez de confortá-lo com palavras de alento e consolo, limitou-se a repetir o que sempre dizia "tudo que Deus faz é bom".

Ao ouvir tamanha afronta, o rei, irado e desconsolado, mandou que os guardas o levassem para a prisão.

Depois do acidente, a vida do rei ficou diferente. Não tinha ninguém para conversar e confidenciar pensamentos mas continuava com seus passatempos diários, trabalhando a madeira e cavalgando todas as manhãs, só que agora ia sozinho.

Um belo dia, enquanto cavalgava por um recanto mais distante da floresta, foi aprisionado por índios selvagens. Levado para a tribo, amarrado e assustado, a única coisa que o rei poderia fazer era rezar e pedir a Deus que lhe desse proteção e paz.

Chegando à tribo, o rei foi surpreendido por uma grande festa. Tambores e chocalhos soavam, índios pintados dançavam em volta de um altar, onde um sacerdote permanecia sentado em completo transe...tudo estava preparado para a grandiosa festa de sacrifício aos Deuses dos índios.

A um pequeno movimento do sacerdote, alguns índios aproximaram-se do rei, desamarraram suas mãos e começaram a pintá-lo com cores fortes e berrantes. O sacerdote então aproximou-se e começou a dizer palavras que o rei não compreendia.

Enquanto dançava ao redor do altar, o sacerdote observou que o rei não possuía um dos dedos da mão. Irado e frustado, ordenou que o rei fosse libertado, pois um ser incompleto não poderia ser oferecido em sacrifício para os deuses.

Após ser libertado, o rei voltou ao castelo. Enquanto caminhava pela floresta, pensava sobre o que havia acontecido: "realmente tudo que Deus faz é bom". Se não tivesse perdido um dedo, teria perdido a vida.

Uma questão, porém, ainda perturbava o rei. O que explicaria a permanência do seu fiel primeiro ministro na prisão, durante todo aquele tempo?

Seria este Deus justo apenas para o rei e não para seus súditos?

Chegando ao castelo, o rei ordenou que o primeiro ministro fosse solto e trazido a sua presença. Afinal, era impossível para ele entender o motivo pelo qual Deus havia sido tão injusto com um homem tão bondoso.

Ao vê-lo, o rei contou o que havia acontecido pela manhã e falou: "agora compreendo que perdi um dedo mas em compensação não perdi a minha vida. No entanto, não entendo porque Deus não foi benevolente com você. Como isso pode ter sido bom para você?"

O sábio e paciente amigo então lhe respondeu: "vossa alteza se esqueceu que tínhamos o costume de cavalgar juntos todas as manhãs? O que teria acontecido comigo se eu estivesse em sua companhia na floresta hoje?

Afinal, eu tenho todos os meus dedos..."

Deus faz coisas que, em determinados momentos, não podemos compreender e as julgamos erradas, mas no futuro entenderemos que foram em nosso próprio benefício.

E por fim concluiu: "tudo que Deus faz é bom..."

(História de autor desconhecido)