Consequências imprevisíveis
Detesto fofoca! - eis uma expressão que se ouve muitas vezes.
Estranhamente, os mesmos lábios que assim falam, são os primeiros a espalhar notícias, sejam ou não verdadeiras.
Os homens anseiam por manchetes sensacionalistas e notícias aterradoras.
Se assim não fosse, não cresceriam tanto os índices de audiência de programas em que a miséria humana, os aleijões e os problemas íntimos são amplamente explorados.
Desculpam-se alguns afirmando que mostram quadros problemáticos com o intuito de auxiliar, de chamar a atenção de entidades governamentais para situações que se repetem, dia a dia, infelicitando as criaturas.
Ou então, para sensibilizar a opinião pública, a fim de que movimente recursos para reverter a questão.
No entanto, que auxílio é este em que se deve expor o ser ao ridículo, a comentários nem sempre elevados, a closes que revelam detalhes mínimos da dificuldade que vive a pessoa?
Será necessário que ouçamos o lamento agudo da dor, que verifiquemos a chaga aberta do nosso irmão para, e só então, providenciar o socorro?
E que se dizer quando somos nós mesmos os promotores da desdita alheia? Quando fomentamos, com a calúnia, a crítica mordaz a infelicidade do nosso próximo?
Tem se tornado comum boatos serem anunciados como verdades incontestes, principalmente em se tratando de personalidades públicas, da área política, artística ou religiosa.
Atitudes corriqueiras, viagens a passeio são logo levadas à conta de ações suspeitas, fugas ao dever. E a maledicência vai destruindo, como fogo devorador a imagem, a vida de criaturas humanas.
É a fofoca lançando seu vírus perigoso e de fácil proliferação, ameaçando vidas preciosas. Quanto mais recebe atenção, mais facilmente se propaga e ganha força.
Por vezes, alia-se à censura, enfermidade que se encontra em germe em quase todas as criaturas.
Quem não aprecia encher o tempo com uma pitadinha de crítica ao semelhante?
Afinal, sempre há o que censurar. O filho rebelde, que se envolveu com companhias infelizes, o marido que se ausenta em demasia, a esposa que adentra o lar altas horas da noite, o mau comportamento dos pequenos, as travessuras da criança que adjetivamos como mimada.
E, contudo, desconhecemos a verdade, pois que não somos senhores da intimidade alheia.
Não pretendamos ajudar maldizendo, expondo o outro, magoando-o ainda mais. Quem é portador de dificuldades, de mazelas morais, já é por isso mesmo infeliz.
Se desejamos alcançar o bem, libertemo-nos quanto antes da maledicência e da censura.
Não acreditemos que ajudaremos o nosso irmão, censurando-o. Ninguém oferece a um amigo água parada ou recolhida em um vasilhame imundo.
Desculpemos sempre e, desejando auxiliar, ofereçamos o braço amigo, a palavra edificante, o exemplo cristão, a fim de inspirar os homens a acertar mais, para a felicidade de todos.
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A intriga é tão antiga quanto o homem.
Os primeiros registros de boatos se encontram na História da Roma Antiga.
Narra-se que o Imperador Júlio César, quando desejava atingir adversários políticos, pagava a peso de ouro a alguém para que espalhasse que aquele senador estava conspirando contra o Império.
A palavra boato vem do latim boatu, que significa mugido ou berro de boi. O vocábulo queria manifestar que uma determinada intriga estava sendo gritada aos quatro ventos.
Redação do Momento Espírita, com base no texto Radiografia da fofoca, da Revista Veja de 17.06.1998 e do cap. 49 do livro Sementeira da fraternidade, por Espíritos diversos, pela psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.