O nobre sentimento da gratidão
Existem pessoas que reclamam da ingratidão. Algumas se afirmam desiludidas porque seus gestos de apoio e dedicação foram retribuídos com maldades e injustiças.
O bom, nisso tudo, é que é um número limitado de criaturas que ainda se permite contaminar pela ingratidão.
Quantos de nós recordamos pessoas queridas, que passaram por nossas vidas e deixaram o toque inconfundível de suas presenças, perfumando-nos as existências?
Uma revista de circulação nacional publicou, certa feita, uma carta recebida por uma grande editora brasileira. Dizia assim:
Prezado senhor. Tomo a liberdade de tomar seu valioso tempo para lhe contar uma historinha inusitada e quase inacreditável, não fosse o fato do senhor ter conhecido bem o personagem da mesma: o Sr. Victor, seu pai.
Eu morava numa vila, em fins da década de 40 e começo de 50 e a garotada de 8 a 10 anos chegava da escola, jogava a mala em casa e saía para brincar.
Era só o que queríamos. Mas, nas tardes em que saíam revistas na banca de jornais, não havia brincadeiras.
A garotada ia para a banca adquirir as revistas e se enfurnava em casa para se deliciar com as historinhas.
À tarde, nos reuníamos para os nossos comentários sobre nossos heróis.
Mas, logo depois, certas histórias eram interrompidas para continuar na semana seguinte. Nós nos sentimos ultrajados. E se não desse para comprar a próxima? Como ficaríamos?
Então, do alto de nossa autoridade de estudantes primários fomos reclamar na editora, instalada em acanhadas salinhas.
Fomos recebidos por um senhor alto e muito simpático que logo nos desarmou com um sorriso e nos convidou a sentar.
Em seguida, nos ofereceu água e nos fez diversas perguntas sobre as revistas. E, curiosamente, prestava atenção às nossas respostas.
Ele aproveitou a presença de duas "autoridades" de 8 e 9 anos para fazer uma das primeiras pesquisas de opinião do Brasil.
O autor da missiva concluía dirigindo votos de sucesso sempre maior à editora, dizendo que o fato aconteceu há mais ou menos 50 anos.
A carta poderia ser simplesmente considerada como um elogio à atitude de um homem de visão, um empresário bem sucedido.
Contudo, nas entrelinhas, o missivista deixa clara a sua emoção, o sentimento de gratidão a um grande homem que, um dia, parou tudo que estava fazendo, em seu escritório, e dedicou a duas crianças alguns minutos do seu precioso tempo.
* * *
Ouvir as opiniões das criaturas é sinal de sabedoria, pois sempre se pode colher flores onde menos se espera.
Deter-se e doar tempo aos pequeninos é sinal de grandeza, pois todos os que são verdadeiramente grandes conhecem a importância dos pequenos.
E a gratidão é sentimento nobre que brota, espontâneo, dos corações enriquecidos por emoções altruístas.
Constituem formas de gratidão o gesto de ternura, a expressão de afeto, o testemunho da simpatia e da solidariedade.
Redação do Momento Espírita, com base no verbete Gratidão, do livro Repositório de sabedoria, v.I, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal, e em artigo de Sergio Tiezzi, publicado na revista Caras.