Outra chance
A linguagem dos Evangelhos, pela sua tônica de síntese, não se alonga em descrições, como muito gostaríamos.
Assim é que alguns personagens são apresentados de forma meteórica e nos deixam a pensar o que lhes terá ocorrido, após o encontro com Jesus.
O caso da adúltera, surpreendida em flagrante e conduzida pelo esposo e seus amigos à praça pública para julgamento é um desses episódios.
O desenlace não se encerra com as palavras do Cristo à turba exaltada e à mulher sofrida.
Narram-nos as tradições espirituais que, após ouvir do Mestre as frases: Ninguém te condenou? Eu também não te condeno. Vai e não tornes a errar, ela se ausentou da praça, de alma angustiada.
O que fazer, agora? Retornar ao lar? De forma alguma, desde que não poderia aguardar do esposo compreensão, após o desfecho dos fatos.
Voltar ao lar paterno? Inviável, marcada que estava pelo equívoco considerado imperdoável e merecedor da morte pela lapidação.
Jesus lhe permitira viver. Contudo, para onde ir? O que fazer? Com o Espírito conturbado, quando o véu da noite se fez sobre a Terra, ela buscou o Mestre, no lar que O acolhia.
Solicitou entrevista em particular e Lhe falou das suas incertezas.
Errara, sim, pois se deixara enredar nas malhas da sedução de habilidoso homem. Que rumo tomar, indagava, desde que não tinha para onde ir?
O Mestre, que viera para os doentes, e não para os sãos, que viera para consolar, não para julgar, estendeu-Lhe as mãos e Lhe acenou com perspectivas novas.
Aconselhou-a a buscar localidade onde não fosse conhecida, recomeçar sua vida e primar pelo reto caminho.
A noite recamada de estrelas a surpreendeu na estrada para distantes sítios.
Anos depois, nas imediações da cidade de Tiro, ela podia ser encontrada em humilde casa, servindo ao seu próximo.
Transformara sua sede de amor em doação ao semelhante. Recebia em seu lar os doentes abandonados, chagados e enfermos da alma.
Lavava-os, tratava-lhes as feridas e para lhes dulcificar o caminho cheio de espinhos, falava-lhes de Jesus.
Eu estava perdida, afirmava, e Jesus me recuperou, apontando-me a luz.
A esperança acena para além do véu da desesperança, para todos os que, caídos, embora, anseiam reerguer-se.
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Se você está a ponto de cair, cedendo às paixões inferiores, alce os olhos e busque Jesus, através dos fios delicados da prece.
Se você se sente à beira do abismo, recorde que os que seguem o Cristo, caem de pé, dispostos ainda à retomada dos bons propósitos e das lutas nobres, no sincero desejo de acertar.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 15 do livro Pelos caminhos de Jesus, pelo Espírito Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.