Trabalhadores da última hora
Em suas pregações, Jesus utilizou largamente o recurso das parábolas.
Mediante elas ministrou ensinamentos morais a um povo rude, ainda incapaz de assimilar as grandes verdades da vida, em toda a sua pureza.
Sob o véu da alegoria, jazem rutilantes ensinamentos.
Cada qual extrai das parábolas a lição compatível com seu estado evolutivo.
Mas a essência, sempre consistente na necessidade de uma vida honesta e fraterna, é acessível a todos.
À medida que a criatura cresce em compreensão, ela percebe novos desdobramentos de uma mesma passagem evangélica.
Utilizando uma expressão do Cristo, passa a ter olhos de ver.
É muito conhecida a Parábola dos trabalhadores da última hora.
Nela, Jesus fala de um proprietário de vinha que assalariou trabalhadores em diversos momentos do dia.
Ao final, a todos remunerou igualmente.
Assim, quem trabalhou apenas uma hora ganhou o mesmo de quem iniciou a tarefa ao alvorecer.
Proporcionalmente, a remuneração dos últimos contratados foi muito superior à dos primeiros.
Por se tratar de um ensinamento alegórico, dele podem ser extraídas variadas lições.
Um dos enfoques possíveis é comparar os trabalhadores com todos os envolvidos na reforma moral da Humanidade.
Ao longo dos séculos, eles se sucederam.
Foram profetas, legisladores, administradores, juristas e pensadores os mais diversos.
A diferença na remuneração pode ser referida ao resultado obtido com a tarefa.
No princípio, as criaturas eram muito rudes e bastante refratárias aos ensinamentos.
Com o passar dos séculos, foram se tornando mais receptivas e maleáveis.
Hoje, as leis civis implementadas por Moisés parecem bastante severas.
Por exemplo, a regra do olho por olho soa intolerante aos ouvidos do homem moderno.
Mas para a época foi uma grande e importante inovação.
Até então, vigorava a vingança desmedida.
Perante um mal feito, não raro se eliminava não apenas o ofensor, mas toda a sua família.
A proporcionalidade da represália representou um avanço moral.
Como o povo ainda não conseguia perdoar, ao menos se tinha um limite para o revide.
E assim gradualmente a Humanidade evoluiu.
Incontáveis pessoas dedicaram suas vidas a esse mister.
Coisas que hoje parecem naturais são fruto de grandes lutas e renúncias.
Direitos trabalhistas, igualdade entre homens e mulheres e proibição de penas cruéis são alguns exemplos.
Pode-se dizer que os reformistas dos primeiros tempos trabalharam na base do edifício.
Hoje já se atua na cumeeira, na medida em que a Humanidade está pronta para vivenciar a fraternidade.
Notícias sobre atos cruéis e desonestos chocam, pois no íntimo a maioria da população deseja outras vivências.
Em suma, chegou a vez dos trabalhadores da última hora.
É preciso se tomar do ideal de viver em um mundo melhor e agir para que ele se implante na Terra.
Urge que os homens de bem mostrem a força de seu caráter e ocupem espaços.
É necessário que as crianças sejam educadas para amar o trabalho e a honestidade e viver fraternalmente.
Mas, mais do que apenas belos discursos, são necessários exemplos.
A generosa recompensa do esforço será a ventura de viver, e mais tarde renascer, em um mundo justo e fraterno.
Pense nisso.
Redação do Momento Espírita.