Filho-problema
Um dia desses conversava com os pais de um jovem portador de uma enfermidade que o encarcerou numa cadeira de rodas, tornando-o dependente dos cuidados dos familiares.
Quando tivemos o primeiro contato com a família, o garoto ainda era senhor dos próprios passos, corria, jogava, brincava como qualquer criança.
Um dia surgiram alguns sintomas e os especialistas deram a triste notícia aos pais: o agravamento era inevitável.
Mas o que impressiona naquela família, é a forma com que enfrenta a situação.
O irmão mais novo é todo atenção e carinho. A irmã mais velha é a presença constante do afeto.
A mãe é o eixo central que dá o tom do equilíbrio e instaura a disciplina. É como uma flor a espalhar o perfume da ternura em notas de afago e firmeza.
O pai é a segurança, o grande amigão, o companheiro que assiste o futebol e torce junto, embora para times diferentes.
O jovem tem dificuldades para pronunciar as palavras, mas tem um notável senso de humor.
Não deixa passar as oportunidades de comentar, de forma jocosa, as pequenas falhas do pai.
Quando o pai o esquece no banheiro, por longo tempo, ele diz que já está acostumado, por isso tem sempre ao lado do vaso uma revista ou um livro de sua preferência.
"Você não é o pai que eu desejo, mas é o pai que eu preciso", comenta de vez em quando, com um sorriso maroto.
Um dia, uma vizinha perguntou à sua mãe: "É você que tem um filho-problema?"
E a mãe respondeu, sem hesitar: "Não, eu não tenho nenhum filho-problema."
Um dia, comentando esse episódio, essa mãe-ternura dizia:
"Não vejo em meu garoto um filho-problema. Ele é parte importante para a alegria do nosso lar. Ensina-nos tantas coisas. É valioso tesouro que o Criador nos emprestou.
Creio que filho-problema é aquele que provoca pranto e infelicita os pais...
É o filho criminoso, violento, que crava no coração dos pais o punhal do desgosto, da ingratidão.
Filho-problema é o filho esbanjador, explorador de seus pais, corrupto e corruptor, insensível, irresponsável.
Portanto, meu garoto não é um filho-problema, embora tenha sérias limitações físicas."
* * *
Sem dúvida aquela mãe tem razão.
Existem pais e mães que carregam a pesada cruz construída por filhos-problema.
Enquanto cuida, com desvelo e carinho, do seu tesouro imobilizado numa cadeira de rodas, aquela mãe pensa nas outras mães que morrem aos poucos nas madrugadas à espera de filhos indiferentes.
Propiciar bem-estar ao seu jovem-rapaz, fazer-lhe a higiene, alimentá-lo, renunciar à profissão para se dedicar ao seu tesouro, não é problema nem sofrimento para aquela amorável mãe.
No entanto, há outras mães que amargam seus filhos-problema, que não têm nenhuma limitação física, mas cujos corações são de pedra.
Por tudo isso, é importante pensar a respeito do que seja realmente um filho-problema.
E estejamos seguros de que as limitações físicas de um filho não são, necessariamente, fonte de dificuldade para os pais, assim como a saúde física não é garantia de felicidade.
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Todo filho é empréstimo sagrado que o Criador concede aos pais para que seja burilado com o cinzel do amor.
Quase sempre o filho rebelde é alguém que necessita de carinho e firmeza para que possa reencontrar o caminho para Deus.
Assim sendo, não importa o quanto custe de sacrifício e esforço, o melhor investimento que os pais podem fazer é devolver ao Genitor Celeste essas jóias com mais brilho na alma.
Texto da Equipe de Redação do Momento Espírita