Livraria 18 de Abril

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Aos cristãos

   

Vários são os relatos de sonhos nos quais os homens travaram contato com os Espíritos Superiores, recolhendo, dessa forma, preciosos ensinamentos.

Eurípedes Barsanulfo, abnegado trabalhador do Cristo, certa noite, enquanto seu corpo físico repousava através de sono reparador, viu-se transportado em Espírito, a uma região distante da Terra.

Sentia-se conduzido por braços intangíveis à vasta campina verdejante.

Um lugar de aspecto agradável, onde se podia ouvir constante melodia no ar, e onde a brisa espalhava suave perfume de flores silvestres.

Deteve-se por alguns instantes a contemplar aquela paisagem desconhecida e, ao mesmo tempo, extremamente envolvente quando avistou, ao longe, um homem que meditava, envolvido por sublime luz.

Atraído pelo desconhecido, aproximou-se...

Mas, ao chegar mais perto deteve-se trêmulo...

Algo lhe dizia, no íntimo, para que não avançasse mais...

E, num deslumbramento de júbilo, reconheceu-se na presença do Cristo.

Baixou a cabeça, constrangido pela honra inesperada, e ficou em silêncio, sentindo-se incapaz de voltar ou seguir adiante.

Recordou, instintivamente, as lições do Sublime Galileu, os templos do mundo, as homenagens prestadas ao Senhor, na literatura e nas artes, e a mensagem Dele a ecoar entre os homens, há mais de vinte séculos...

Ofuscado pela grandeza do momento, começou a chorar...

Grossas lágrimas banhavam-lhe o rosto, quando adquiriu coragem e levantou os olhos, humilde...

Ousou olhar nos olhos do Mestre, e percebeu que Jesus também chorava...

Tomado de profundo sofrimento por Lhe ver o pranto, desejou fazer algo que pudesse reconfortar o Amigo sublime...

Afagar-Lhe as mãos, beijá-las num gesto de extremo reconhecimento pelo Seu amor, jogar-se aos Seus pés...

Mas estava como que chumbado ao solo, sem forças para dar um passo à frente.

Pensou, no entanto, que os responsáveis pelas lágrimas do Cristo fossem as criaturas que até hoje, na Terra, Lhe atiram incompreensão e sarcasmo, ignorando Seus sublimes ensinamentos.

E, nessa linha de pensamento, não se conteve. Abriu a boca e falou suplicante:

Senhor, por que choras?

O interpelado nada respondeu.

Desejando certificar-se de que estava sendo ouvido, Eurípedes perguntou outra vez:

Acaso choras pelos descrentes do mundo, Senhor?

O Mestre olhou-o demoradamente e depois respondeu com voz compassiva e doce:

Não, meu filho, não sofro pelos descrentes aos quais devemos amar. Choro por todos os que conhecem o Evangelho, mas não o praticam...

Eurípedes não saberia descrever os sentimentos que lhe invadiram a alma naquele momento.

E, como se caísse em profunda sombra, ante a dor que a resposta lhe trouxera, desceu, desceu... E acordou no corpo físico.

Era madrugada. Não conseguiu mais conciliar o sono e levantou-se.

Desde aquele dia, sem comunicar a ninguém a divina revelação que lhe vibrava na consciência, entregou-se, como professor que era, aos labores da educação, dedicando-se aos alunos como se fossem seus filhos.

Atendeu aos doentes e aos necessitados de toda ordem, sem descanso, em nome do Cristo, a quem passou a seguir com mais fidelidade.

Redação do Momento Espírita, com base no cap. 27,do livro A vida escreve, pelo Espírito Hilário Silva, psicografia de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, ed. Feb.