A nobreza de um gesto
Habitualmente falamos que somente coisas ruins ganham manchete. Que notícia boa não é veiculada porque não vende nem jornal, nem revista.
No entanto, por vezes, um gesto nobre ganha o noticiário internacional.
Assim aconteceu com um palestino que virou manchete mundial. Ele não protagonizou nenhum dos conflitos que têm abalado as relações e a paz dos povos do Oriente.
O mecânico Esmael Khatib deu uma verdadeira lição de fraternidade ao doar os órgãos de seu filho Ahmed a pacientes israelenses, que necessitavam de transplantes.
O palestino teve seu filho, de apenas 12 anos, alvejado por soldados de Israel, durante uma operação de busca no campo de refugiados de Jenin.
O mecânico optou pela doação, inspirado pela perda de seu irmão, de 24 anos, que, não resistindo à longa espera por um transplante de fígado, veio a morrer.
Entre os beneficiados pelo gesto do palestino se encontravam um bebê de 7 meses e uma mulher de 58 anos.
Alguns eram judeus, árabes-israelenses e uma garota de origem drusa.
Conforme reproduziu o jornal Folha de São Paulo, Khatib teria dito:
Eu me sinto bem pensando que os órgãos de meu filho estão ajudando seis israelenses.
Acredito que o meu filho está agora no coração de todo israelense.
O fato repercutiu pelo Mundo, exatamente pelos conflitos que envolvem as nações em questão.
Tanto mais que o menino fora morto por israelenses.
O fato é que, aquele pai, dolorido pela separação violenta do filho amado, encontra forças para beneficiar pessoas.
Não indaga se pertencem à sua mesma nação, ao seu povo, à sua família.
Não pergunta se são amigos ou inimigos. Simplesmente doa. Um gesto de humanidade, uma ação altruísta.
A nota nos remete aos versos do sublime Galileu há mais de dois milênios: Ama o teu próximo... Faze o bem a quem te persegue... Ama o teu inimigo.
Em nosso Brasil, embora as campanhas promovidas e a facilidade que se tem para doar órgãos, ainda é muito grande a fila de espera.
Algumas estatísticas apontam que chega a 60 mil o número, em nosso país, dos que se encontram aguardando transplantes.
A doação de órgão não é contrária às leis da natureza, porque beneficia a vida.
Os doadores colaboram com a vida. O Espírito se liberta da carne e permite a outros o retorno da visão, a desvinculação de procedimentos morosos e dolorosos.
Permite que um pai retorne ao lar, que o profissional retome atividades interrompidas, que o jovem volte a tecer sonhos de estudo e produtividade.
Aqui, é a bomba cardíaca que torna a regularizar seu ritmo; ali é um fígado que volta a funcionar; além é um pulmão que se enche de ar, insuflando vida.
Beneficiados os que recebem as doações dos órgãos. Abençoados por Deus os que se fazem doadores da esperança e da vida que estua.
Pense nisso.
Redação do Momento Espírita, a partir de notícia publicada no Jornal Folha de São Paulo, datado de 8 de novembro de 2005.