Livraria 18 de Abril

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Um sonho que findou

   

Imagine se um dia o homem inventasse um aparelho para escutar pensamentos! Imagine que esse aparelho pudesse detectar os pensamentos de quem se prepara para nascer.

Se isto acontecesse, é possível que ouvíssemos algo mais ou menos assim:

"Enfim, vou realizar o meu grande sonho! Um sonho grandioso demais para mim. Para algumas pessoas, pode parecer banal porque, com certeza, elas nem sequer compreendem como ele é precioso."

Mas, é o meu sonho. O meu desejo mais intenso: viver. Depois de muitos, muitos planos, muito tempo de expectativa, vou nascer!

Vou ganhar uma existência como oportunidade inestimável para crescer, aprender, realizar, amar, ter a chance que todos têm de construir e gravar na terra sua passagem por ela.

Vou nascer. Faltam alguns meses, mas eu já estou completo há semanas.

O dia de eu ver a luz do sol, de sentir o ar entrar em meus pulmões está perto. Ah, como deverá estar a cor do céu nessa hora?

Estou ansioso para sentir o cheiro de minha mãe. Qual a cor dos seus olhos? O que será que verei primeiro: o seu sorriso de felicidade ou a sua lágrima de agradecimento a Deus?

Quem irá me balançar primeiro no colo, ela ou papai? Meu pai! Como será sua voz, como serão suas mãos? Decerto devem ser grandes, bem maiores do que as minhas. Assim eu me sentirei bem protegido e amparado.

Vou adorar correr pela casa, procurando você, mamãe. Vou tomar banho cantando e rir das suas brincadeiras.

Você me verá perder o primeiro dentinho e tomará minha mão para me ensinar a desenhar as primeiras letras. E eu vou escrever bem bonito, bem grande, dentro de um coração a palavra: mamãe!

Sonhei até há pouco. Mas hoje meu grande sonho foi transformado em pesadelo. Gritei por minha mãe porque ouvi dizer que a gente grita pela mãe, quando está com medo.

E eu tive tanto medo. Gritei. Mas ninguém me ouviu! Fui sentindo cada golpe da lâmina afiada. Encolhi-me, tentei fugir, mas não tinha para onde ir.

O ninho quente de amor se transformou numa câmara ensangüentada de morte.

Nem em todas as guerras se planejou câmara mais eficiente de matar. Um lugar onde o condenado não tem voz, não pode correr, não tem como se defender e nem querem saber se ele está sentindo alguma coisa.

Tive um sonho impossível. Sonhei com o amor. Sonhei estar aí com você, mamãe.

O sonho acabou, minha chance foi apagada e uma grande dor ficou em seu lugar.

Já não sei se voltarei a sonhar um dia. No momento, faço parte daqueles que não têm o direito de sonhar com uma nova existência.

Mas quem sabe você encontre nas crianças que conseguiram nascer e foram abandonadas, alguém que tenha sonhado como eu e que está à espera de um colo arrependido e cheio de amor."

***

O aborto, mesmo quando aceito e tornado legal nos estatutos humanos, fere, violentamente, as leis divinas, continuando crime para quem o pratica ou a ele se permite submeter.

Pensemos nisso.

Equipe de Redação do Momento Espírita, baseado em texto intitulado Aos que sonham, de autoria de Cristina Damma F. Dias - revista Harmonia, número 84, outubro de 2001.