Livraria 18 de Abril

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Saudade e esperança

   

Tudo começou num dia claro de primavera, quando a brisa fresca da manhã espalhava suave perfume de flores no ar. Voltei da maternidade carregando nos braços aquele pequeno tesouro com que Deus me havia presenteado.

Vê-lo crescer e observar cada gracinha da sua meiguice, era a maior felicidade que uma mãe pode esperar.

Os meses se somaram e se transformaram em anos...

E aqueles dois olhos azuis pareciam duas pedras preciosas engastadas num rosto angelical, observando tudo com atenção e vivacidade.

À medida que o tempo passava, mais se apertavam os laços do afeto... Mais se solidificava o amor...

Os meses pareciam horas, embalados pelos risos e a algazarra daquele ser singular.

Todavia, a vida nos reserva emoções das quais nem suspeitamos...

Era uma tarde de verão e o vento morno soprava, espalhando no ar um estranho sentimento de tristeza.

O pequeno se queixou de dor de cabeça e em meu coração senti profundo amargor...

O médico diagnosticou câncer...

Tive a sensação de que o chão havia sumido de sob os meus pés. Um aperto no coração me tomou de assalto e eu perdi os sentidos.

Voltando à realidade, muni-me de coragem para enfrentar a situação daquele momento amargo.

Ele estava ali, numa súplica silenciosa para que eu o ajudasse. E foi o que eu fiz, com a ajuda de Deus.

Os tratamentos eram cruéis...

As horas pareciam anos, arrastados pelos gemidos de dor...

Aqueles dois olhos perdiam o brilho a cada segundo...

E, por fim, a vida se extinguiu como uma chama que se apaga...

...Era um dia de inverno e o vento soprava sem piedade, trazendo consigo o manto escuro da morte...

Naquela tarde eu depositei seu corpinho imóvel na laje fria do túmulo...

De braços vazios e coração dilacerado, tive vontade de agarrar-me ao pequeno esquife para não deixá-lo sozinho, mas uma força estranha me conteve...

Lembrei que muitas mães já haviam partido para o Além e roguei para que elas amparassem meu anjinho...

Lembrei-me também que há muitos pequeninos órfãos deste lado da vida e fui ao encontro deles para preencher o vazio da minha alma...

Achei-os relegados à própria sorte e os envolvi em meus braços... Amei-os como se meus filhos fossem...

Os anos rolaram... a saudade se transformou em esperança...

Esperança de reencontrar aquele anjo que Deus me emprestou para valorizar meus dias e abrir em meu coração espaço para um sentimento maior, capaz de amar em cada filho alheio, meu próprio filho.

Essa é a minha mensagem de amor e esperança para todas as mães que já sentiram o amargo sabor da separação...

***

A história dessa mãe anônima talvez se pareça com a de tantas outras mães, variando apenas em algumas nuanças.

E é por isso que nós a narramos, com intuito de mostrar que, mesmo num momento difícil, podemos optar pela resignação ao invés da revolta, pela confiança ou invés do desespero, pelo amor, ao invés do ódio.

Diante dos entes queridos mortos, recordemos Jesus, triunfante depois da morte, retornando em incomparável manifestação de imortalidade gloriosa, vencedor das sombras e das dores...

Redação do Momento Espírita