Livraria 18 de Abril

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A bênção do esquecimento

   

Um dos postulados básicos do espiritismo é o da pluralidade das existências ou reencarnação.

A evolução dos espíritos exige inúmeras existências para aperfeiçoar-se.

Todos são criados simples e ignorantes, mas seu destino é tornarem-se anjos.

A magnitude da meta evidencia a impossibilidade de ser alcançada no curto espaço de uma vida terrena.

Um questionamento freqüentemente levantado a essa idéia refere-se ao esquecimento das existências passadas.

Afirma-se que esse olvido é contraproducente.

Se já vivemos muitas vezes na terra, por que não nos lembramos?

Segundo alguns, a lembrança auxiliaria a não repetir os equívocos do passado.

Também serviria de incentivo à adoção de um patamar nobre de conduta.

Afinal, seria possível correlacionar as dores atuais a específicos erros de outrora.

Conseqüentemente, as criaturas teriam interesse em agir com dignidade.

A crítica parece sedutora, mas não resiste a uma análise criteriosa.

Tenha-se em mente que o esquecimento constitui a regra geral.

Raras pessoas têm, naturalmente, a lembrança de seu agir em outras existências.

A sabedoria divina certamente possui razões para assim estabelecer.

Convém recordar que a lei do progresso rege a vida.

Toda a criação está em permanente processo de evolução e metamorfose.

Na conformidade dessa lei, os espíritos não retroagem em suas conquistas.

As posições sociais mudam constantemente, mas ninguém é hoje pior do que já foi um dia.

As conquistas morais e intelectuais dos espíritos jamais são perdidas.

Assim, cada homem hoje se encontra no auge de seu processo evolutivo.

Ninguém nunca foi no passado mais bondoso ou nobre do que é agora.

Ocorre que a maioria absoluta da humanidade possui atualmente inúmeras mazelas morais.

Isso evidencia que o passado dos homens, em geral, não é repleto de nobres e belas ações.

Nesse contexto, o esquecimento das encarnações pretéritas constitui uma bênção.

No âmbito de uma única existência, quantas vezes a criatura deseja esquecer seus equívocos?

Não é fácil conviver com a lembrança de atos levianos.

Inúmeros relacionamentos periclitam pela dificuldade dos seres humanos relevarem os erros recíprocos.

E na verdade os erros são inerentes ao processo de aprender.

Não é possível sair da mais completa ignorância e transitar para a angelitude sem cometer equívocos nesse gigantesco caminhar.

Para propiciar os acertos necessários, a divindade permite o esquecimento do viver pretérito.

O que se viveu persiste na forma de intuições e tendências, simpatias e antipatias, facilidades e dificuldades.

Muitas vezes, o inimigo de ontem renasce na condição de um filho.

O esquecimento permite a transformação da mágoa em amor.

Ante o rostinho rosado e o olhar ingênuo de uma criança, torna-se possível amar a quem ontem odiávamos.

Quem outrora nos incomodava hoje nos auxilia na figura de um amigo ou irmão.

Sob a bênção do esquecimento, refundem-se as emoções e elos fraternos se estabelecem.

Assim, não é relevante lembrar o passado.

O importante é viver bem o presente.

Equipe de Redação do Momento Espírita.