Livraria 18 de Abril

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Morte inexistente

   

Afirmam que a morte não existe. Que não se trata senão de uma passagem de um estágio para outro.

Será que para um coração de mãe que vê seu filho demandar a aduana do túmulo, tais afirmativas valem como consolo?

Para um pai que acompanha, em lágrimas, o esquife que abriga o corpo do filho morto, isto será suficiente?

Como aplacar a saudade sem limites e a dor superlativa? Haverá algo que possa amenizar o sofrimento da ausência?

Aconteceu na vida de uma mãe que viu partir a sua pequena de sete anos.

Tudo transcorreu como muito rápido. À tarde, ela brincava no parque, travessa e afoita como sempre.

Ao entardecer, voltou ao lar mais cedo do que o habitual, queixando-se de dores de cabeça. Parecia um pouco febril.

Tudo foi levado à conta de um resfriado leve. A medicação suave se fez no próprio lar. A criança se recolheu ao leito.

A febre e a dor aumentaram de intensidade nas horas que se seguiram.

No dia seguinte, resolveu-se levar a criança ao médico. Internamento às pressas, exames, diagnóstico terrível.

Em poucas horas o quadro agravou-se.

Depois, foi a longa espera do lado de fora do centro de terapia intensiva, para as visitas com hora certa e rápidas.

Finalmente, a morte. O corpo gélido. A dor da separação. Os lábios que sorriam, cantavam, emudeceram. As mãos que faziam carícias enrijeceram. O corpo que realizava acrobacias nas árvores, no parque de diversões tornou-se imóvel.

Os dias que se seguiram foram de silêncio.

O tilintar do telefone, a conversa das pessoas, incomodavam.

Se sua filha morrera, tudo deveria vestir-se de luto, como seu coração de mãe.

O jardim em primavera de cores parecia ofendê-la porque seus olhos somente viam a escuridão, desde que o raio de sol de sua vida fora arrebatado.

Certa noite, sonhou. Viu sua pequena filha vestida de azul, cor que lhe caía tão bem e realçava sua pele, seus cabelos, seu sorriso.

A pequena sorria, estendendo os braços: "mãe, por que tanta amargura e revolta?"

A voz era doce e terna, falando-lhe enquanto a acariciava com suas mãozinhas mimosas.

- Findou meu tempo na terra, mãezinha.

Foi tão bom. Mas era somente o tempo que me faltava para completar. Deus permitiu-me a volta ao mundo espiritual, desde que cumpri o que estava estabelecido.

- Por que chora, mãezinha, a liberdade de sua filha? Não vê como estou bem e feliz? Estou com você e desejo vê-la sorrir novamente.

- Permita-se o retorno à alegria.

Dedique-se a crianças sem lar, doe meus brinquedos, faça outros pequenos felizes em meu nome. E Deus, que tudo vê, nos abençoará a ambas."

Quando despertou, na manhã seguinte, a jovem mãe trazia a nítida lembrança das carícias e dos afagos da filha.

Ergueu-se, abriu a janela, aspirou o ar perfumado da manhã de luz, observou as tintas da madrugada que se despedia, sorriu e decidiu-se por voltar a viver com alegria e esperança.

Você sabia?

Você sabia que a morte pode ser comparada a uma breve despedida?

Os que nos deixam na terra, verdadeiramente não nos abandonam, já que para os verdadeiros amores jamais se apaga a chama do afeto.

Dessa forma, não existem adeuses, mas sim um "até breve", pois logo mais tornaremos a nos ver, a nos reencontrar, no mundo dos espíritos ou no mundo corporal.

Nossos amores, se não estão conosco, ao nosso lado, permanecem em algum lugar, porque jamais se perde a ponte entre o céu e o coração.

Redação do Momento Espírita