Livraria 18 de Abril

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O castiçal

   

Pedro era um homem pobre. Jardineiro, ganhava a vida no trabalho diário com flores e plantas.

Certo dia, ele se dirigia para casa quando encontrou no caminho um homem prestes a ser assaltado.

De alma nobre e ânimo valente, logo foi em socorro do desconhecido. Graças à sua interferência os dois ladrões fugiram sem causar maiores danos físicos.

Reconhecido, o quase assaltado resolveu premiar o seu salvador. Por ser um rico mercador e possuir muitas e ricas peças, tomou de uma caixa amarela de couro lavrado e a deu ao jardineiro.

Pedro foi rápido para casa. Mal podia conter sua curiosidade.

O que será que lhe teria dado o rico senhor?

Como a caixa pesasse, ele pensou que poderiam ser muitas moedas de prata.

Ao abrir a caixa para conhecer as preciosidades que ela devia conter, ficou desiludido.

Era somente um castiçal. Um castiçal de metal escuro e pesado.

Pedro ficou muito aborrecido. Afinal, arriscara a vida lutando contra os salteadores da estrada e ao final, somente ganhara aquilo.

O que ele faria com um castiçal?

Convencido do desvalor do presente, ele atirou o castiçal a um canto. Abandonado, o objeto ficou rolando pela casa.

Toda vez que o jardineiro colocava sobre ele os olhos, mais se amargurava lembrando do episódio.

Descuidadamente, o castiçal caiu no terreiro e ficou ao relento alguns dias.

De outra feita, serviu de calço para um móvel partido. Até como martelo foi utilizado pelo seu dono.

Como as dificuldades da vida de Pedro se avolumassem, ele precisou sair daquela casa e foi morar em outras paragens. Levou consigo quase tudo que possuía.

Mas deixou o castiçal, sobre a mesa suja. Afinal, era uma coisa imprestável!

Ora, aconteceu que na casa deixada por Pedro veio morar um músico.

Descobrindo o castiçal em desleixo, teve logo a impressão de que deveria ser uma peça curiosa.

Tirou-lhe o pó e livrou-o das manchas que o recobriam. Viu então que na base da peça haviam várias figuras. Um belo navio, que parecia vencer as ondas e uma bailarina graciosa que dava a impressão de dançar no meio de um lindo jardim.

Virando um pouco a peça, descobriu ainda um majestoso templo com torres apontadas para o céu. E, finalmente, um corcel negro a galopar sobre uma montanha de nuvens.

Quanta beleza! Imaginou logo o músico que o castiçal deveria ser uma raridade. Tratou de mostrá-lo a várias pessoas, até conseguir que um rico colecionador de peças raras o comprasse, por uma fortuna incalculável.

O que nas mãos de Pedro era uma peça inútil se transformou em uma verdadeira preciosidade aos olhos inteligentes de Leonardo.

* * *

Quantas pessoas existem no mundo que, à semelhança do jardineiro, possuem ao seu lado tesouros incalculáveis mas cujos olhos não se apercebem do que os rodeia.

A peça preciosa que Deus depositou nas nossas mãos pode ser um cônjuge dedicado, uma mãe extremosa, um filho, pais amorosos.

Haverão tesouros maiores que os do afeto que abençoam uma vida, enchendo-a de alegrias?

Redação do Momento Espírita, com base no cap. A mulher e o castiçal, do livro Minha vida querida, de Malba Tahan, ed. Record.