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Desesperada esperança

   

Dra. Elizabeth Kübler-Ross realizou um trabalho belíssimo com pacientes terminais.

Seu livro "Sobre a morte e o morrer", já foi traduzido para dezenas de idiomas e recebeu inúmeros prêmios.

Em certo trecho da obra nos fala da esperança de seus pacientes e familiares:

"Ouvindo nossos pacientes em fase terminal, o que sempre nos impressionou foi que até mesmo os mais conformados, os mais realistas, deixavam sempre aberta a possibilidade de alguma cura;

de que fosse descoberto um novo produto, ou de que tivesse ‘êxito um projeto recente de pesquisa’.

O que os sustenta através dos dias, das semanas ou dos meses de sofrimento é este tipo de esperança.

É a sensação de que tudo deve ter algum sentido, que pode compensar, caso suportem por mais algum tempo.

Não importa que nome tenha, descobrimos que todos os nossos pacientes conservaram essa sensação que serviu de conforto em ocasiões especialmente difíceis.

Vimos que os conflitos relacionados à esperança provinham de duas fontes principais.

A primeira, e mais dolorosa, era a substituição da esperança pela desesperança, tanto por parte da equipe hospitalar, quanto por parte da família, quando a esperança ainda era fundamental para o paciente.

A segunda fonte de angústia provinha da incapacidade da família para aceitar o estágio final de um paciente.

Agarravam-se à esperança com unhas e dentes, quando o próprio paciente já se preparava para morrer, mas sentia que a família não era capaz de aceitar este fato."

Os pontos levantados pela estudiosa são fundamentais para o bom entendimento da esperança, e da compreensão do fenômeno da morte.

Esta sensação de que "tudo deve ter algum sentido" não é vã.

É, com certeza, o Espírito tendo acesso, mesmo que inconscientemente, aos planos maiores para sua existência, e à necessidade que carrega de passar por tal provação.

"Todo sofrimento tem uma causa." - eis a proposição budista.

"Toda causa que não se encontra nesta vida, certamente estará numa existência anterior." - eis a proposta espírita.

Todo sofrer tem caráter educativo, sendo de causa atual ou pretérita.

Por isso, o entendimento de que a dor sempre terá algum sentido, e de que o bem-passar por ela nos trará recompensa futura, faz-se indispensável para que não deixemos que a desesperança encontre guarida em nosso íntimo.

O "reino dos céus" prometido aos aflitos, na certeza feliz do Cristo, está na harmonia interior, nos aprendizados alcançados.

Na fé, na paciência, na resignação aprendidos através da tutela temporária da dor.

Tal consciência deve ser alcançada também pelos que ficam, pois esses são convidados a desenvolver o desapego, o altruísmo, e igualmente a fé.

Pensar no bem do outro, antes de pensar na dor da falta, da saudade, é lição clara proclamada pela desencarnação.

A morte é professora brilhante. Ensina quem vai, ensina quem fica.

A esperança é bálsamo doce, que aromatiza e prepara a alma dos que estão nos portões de partida. Dos que partem já, e dos que partirão mais tarde.

"O sol formou um veio de ouro.

Tão gracioso que meu corpo dói.

Acima, o céu brilha num azul intenso.

Convicto, sorri por algum engano.

O mundo cobre-se de flores, e parece sorrir.

Quero voar, mas para onde, a que altura?

Se as coisas podem florescer por entre arames farpados, por que não eu?

Não morrerei!"

Texto da Redação do Momento Espírita com base no cap. VIII do livro Sobre a morte e o morrer, de Elizabeth Kübler-Ross, ed. Martins Fontes e poema de autor desconhecido.