Conta-se que, quando Inácio de Antioquia foi preso, foi levado a Roma e colocado em um subterrâneo, onde encontrou amigos de fé.
Ali ele se recordou de Jesus e por várias horas falou-lhes a respeito das bem-aventuranças do Reino de Deus.
Uma semana depois, milhares de espectadores lotaram o circo e a arena se encheu de feras vindas de várias partes do mundo.
Eram feras que não tinham sido alimentadas por uma semana e sobre as quais se atiravam pedaços de carne ensangüentados, cheios de vida para lhes aguçar o paladar.
Naquela arena, os cristãos foram lançados e os animais, de forma rápida, despedaçaram aqueles corpos frágeis de anciãos, homens, mulheres e crianças, que não se intimidavam diante da morte.
Contudo, de uma forma estranha, Inácio, que se encontrava entre eles, não foi tocado. Esperou que uma patada no tórax lhe despedaçasse os ossos e os músculos. Entretanto, nenhuma fera lhe arrebentou o corpo.
Vendo que os cadáveres dos seus companheiros já estavam sendo rejeitados pelas feras saciadas, ele se ajoelhou na arena ensangüentada e orou a Jesus: "Por quê? Por que fui poupado? Por que não tive a honra de morrer?"
Então, um ser espiritual se apresentou à visão psíquica e lhe respondeu: "Inácio, morrer é muito fácil. Perder o corpo numa só vez é um testemunho pequeno para ti. Tu, que amas tanto Jesus, mereces algo mais penoso. Tu viverás. Viverás entre pessoas que não te compreendem, que desconfiarão de ti."
"Estar firme no ideal, Inácio, no momento das dificuldades, este é o sacrifício maior. O Mestre deseja que vivas, para que a sua mensagem saia da tua boca e experimentes a perseguição continuada, sem desanimar. A morte na arena é uma morte muito rápida para os que são bons e fiéis."
Inácio saiu da arena. Os cristãos supuseram que ele houvesse negado o Cristo e prestado sacrifício aos deuses de Roma, para ter a sua vida poupada.
A calúnia, a maledicência e a intriga semearam na comunidade cristã toda sorte de desconfianças.
Inácio jamais se defendeu, porque quem ama Jesus não tem tempo a perder com defesas improdutivas.
Jamais se justificou, porque ele deveria prestar contas ao seu Rei, Jesus, e não aos seus pares, súditos como ele.
Não disse uma palavra. Os anos demonstraram a sua grandeza. Ele passaria a ser o modelo do cristão verdadeiro, o modelo daquele servidor primitivo de Jesus, elevado á categoria de bem-aventurados por seu testemunho de amor.
***
Se serves a Jesus, não te perturbes com as querelas que te circundam as ações.
Atende sempre com amor. Serve sem cansaço. Trabalha e, como o apóstolo de Antioquia, dá conta dos teus atos a Jesus, nosso mestre e senhor.
Vive cada dia no bem, aplicando a caridade plena que é benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros e perdão das ofensas.
Equipe de Redação do Momento Espírita, baseado na revista Reformador de março de 2001, artigo de Rogério Coelho, pág. 70, O holocausto maior e O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, perg. 886.