Olhando atentamente ao nosso derredor, se observamos que, em pleno ar, um pássaro é atingido por mortífero grão de chumbo, a que conclusão chegamos?
Certamente deduziremos que hábil atirador o alvejou, ainda que não o possamos ver.
Sendo assim, nem sempre é necessário que vejamos uma coisa para saber que ela existe.
Em tudo, observando os efeitos é que se chega ao conhecimento das causas.
E, se todo o efeito tem uma causa, por conseguinte, todo efeito inteligente tem uma causa inteligente.
Assim é que, quando contemplamos uma obra-prima da arte ou da indústria, dizemos que quem a produziu foi um homem de gênio, porque só uma alta inteligência poderia concebê-la.
Reconhece-se, no entanto, que ela é obra de um homem, por se verificar que não está acima da capacidade humana. Mas, ninguém terá a idéia de dizer que saiu do cérebro de um idiota ou de um ignorante, e, ainda menos, que é trabalho de um animal, ou produto do acaso.
Pois bem! Lançando o olhar sobre as obras da natureza, notando a providência, a sabedoria, a harmonia que presidem a essas obras, reconhecemos não haver nenhuma que não ultrapasse os limites da mais portentosa inteligência humana.
Ora, desde que o homem não as pode produzir, é que elas são produto de uma inteligência superior à Humanidade, a menos que se admita que há efeito sem causa.
E é a essa Inteligência Suprema que chamamos Deus.
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... E onde está Deus? - pergunta o cientista.
Ninguém jamais O viu. Deus é somente uma invenção da fé - responde, às pressas, o materialista...
Já o pensador, dirá sensatamente:
Não vejo Deus mas sinto que Ele existe. A natureza mostra claramente em que consiste o Seu poder.
Mas o poeta dirá, com a segurança de quem tem certeza:
Eu vejo Deus no riso da criança...no céu, no mar, na luz...
Eu vejo Deus na mão que acaricia... No olhar das mães fitando os filhos seus... Nas noites de luar, claras e belas...
Em tudo pulsa o coração de Deus.
Eu vejo Deus nas flores e nos prados, nos astros a rolar pelo Infinito...
Escuto Deus na voz dos namorados... E sinto Deus na lágrima do aflito...
Escuto Deus na frase que perdoa... Contemplo Deus no abraço dos amigos ...
Eu vejo Deus na criatura boa... E sinto Deus na paz, na alegria...
Escuto Deus no som da melodia... E sinto Deus na brisa refrescante...
Contemplo Deus no sol que ilumina... E sinto Deus no perfume das flores...
Eu vejo Deus na chuva que beija a terra... E sinto Deus na fé, na esperança...
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O mesmo calor solar, que mantém no estado líquido a água dos rios e dos mares, conduz a seiva à fronde das árvores e faz pulsar o coração dos abutres e das pombas.
A luz que espalha o verdor nos prados e nutre as plantas com um sopro impalpável, também povoa a atmosfera das maravilhosas belezas aéreas.
O som que estremece a folhagem, canta na orla dos bosques e ruge nas plagas marinhas.
Enfim, em tudo vemos uma correlação de forças físicas, que abrange num mesmo sistema a totalidade da vida sob a comunhão das mesmas leis.
É ao autor dessas leis soberanas e perfeitas que chamamos Deus.
Redação do Momento Espírita, com base em poesia de José Soares Cardoso, do livro Momentos de luz, de Hiran Rocha, ed. Kuarup e do cap. II do livro Deus na natureza, de Camille Flammarion, ed. Feb.