Deus, pai amoroso e bom, para que o homem adquirisse confiança plena em Sua bondade infinita, determinou que vários anjos o acompanhassem durante a existência terrena.
Para o receber no berço, Deus empresta um anjo lirial que, aproveitando os lábios da mãezinha adorável, ensina-lhe os primeiros passos, as primeiras palavras e entre elas, ensina-o a proferir singela oração, enaltecendo o nome de Deus.
É o anjo da pureza.
Mais tarde, soletrando o alfabeto, entre as paredes da escola, surge o anjo de luz verde que, por intermédio da professora, o ensina a escrever e lhe dá a notícia de que Deus é o criador de todas as coisas.
É o anjo da esperança.
Alongam-se os anos e ele penetra na Universidade, sob cujo teto venerável é visitado por um anjo de luz dourada que, através de educadores eméritos lhe fala da glória e grandeza do Criador, utilizando a linguagem da filosofia e da ciência.
É o anjo da sabedoria.
Todavia, nessa escalada para os altiplanos do conhecimento, o homem se torna caprichoso e exigente.
Esquece os direitos dos semelhantes e deseja conquistar a atenção de Deus para si somente.
A Majestade Divina, a seu parecer, devia inclinar-se aos seus petitórios, atendendo-lhe as solicitações, sem nada oferecer de esforços para as conquistas que deseja lhe sejam dadas de graça.
E porque o Criador não se submete aos seus caprichos, começa cultivar o espinheiro da negação e da dúvida.
Por mais que se esforce o anjo dourado, rogando-lhe que reverencie o Senhor da Vida, acatando-lhe as leis e os desígnios, o homem mais mergulha na indiferença.
E quando os tormentos se tornam insuportáveis, busca um templo religioso, onde um anjo azul o socorre valendo-se de um sacerdote para recomendar-lhe a prática do trabalho e da humildade, com retidão de consciência e perseverança no bem.
É o anjo da fé.
O homem lhe registra os avisos, mas, sentindo enorme dificuldade para os exercícios da virtude, clama intimamente: Deus? Mas existirá Deus realmente? E porque razão não me oferece provas indiscutíveis do seu poder?
E assim passa o tempo...
O homem se casa, constitui família e os anjos seguem-lhe os passos, na tentativa de conduzi-lo ao Criador.
Mas, ingrato, ele mais se afasta de Deus, acreditando-se onipotente, e cada vez mais rebelde, se questiona: Deus? Existirá efetivamente Deus?
Percebendo que a existência do seu tutelado está por findar, e que sua cabeça encanecida e orgulhosa continua distante do Pai, os anjos rogam ao Senhor as bênçãos em benefício dos seus rebeldes filhos.
É quando Deus envia da glória celeste um anjo cinzento, de semblante triste e discreto.
Este não toma ninguém para comunicar-se. Ele próprio abeira-se do revoltado filho do Altíssimo, abraça-o e sopra-lhe ao coração a mensagem de que é portador...
Sentindo-lhe a presença, o homem cambaleia, deita-se e começa a reconhecer a precariedade dos bens do mundo...
Nota quão transitória é a posse dos patrimônios terrestres, dos quais não passa de usufrutuário egoísta. Observa que a sua felicidade passageira é simples sombra a esvair-se no tempo...
Nesse instante o homem medita... Medita... E, por fim, reconsidera suas atitudes e, em lágrimas de sincera e profunda compunção, qual frágil menino, dirige-se pela primeira vez, com toda a alma, ao Todo Poderoso, suplicando:
Deus de infinita misericórdia, meu Criador e meu Pai, compadece-te de mim!...
E todos se dobram diante desse mensageiro fiel do Criador.
O anjo cinzento é o anjo da enfermidade.
(Adaptação do livro: Contos Desta e Doutra Vida, cap. 5)