Fala-se muito das misérias humanas. Fala-se, sobremaneira, da miséria econômica.
Mas, ao lado das misérias materiais há outras de maior gravidade, que são as misérias morais.
A vaidade é uma delas. Mistura-se a todas as ações humanas e mancha os pensamentos mais delicados. Penetra o coração e o cérebro.
Planta má, a vaidade abafa a bondade. Todas as qualidades são aniquiladas por seu veneno.
Faz com que os homens se esqueçam de Deus, que se constitui em socorro apenas implorado nos momentos de aflição, e jamais o amigo convidado ao banquete da alegria.
A vaidade, por si só, se constitui em obstáculo ao progresso moral dos homens, mas quando está de mãos dadas com o poder, torna-se nefasta.
Nos tempos em que as estradas poeirentas da Galiléia ainda eram marcadas pelas sandálias humildes do Sublime Galileu, um ensinamento singular ficou impresso na História, através de um diálogo do Cristo com um senador romano.
Jesus falou-lhe de humildade mas, aquele homem investido dos poderes e glórias transitórios, deixou-se arrebatar por uma onda de orgulho e questionava-se mentalmente:
Humildade? Que credenciais apresentava o profeta para lhe falar assim, a ele, senador do Império Romano, revestido de todos os poderes?
Lembrou a cidade dos Césares, coberta de triunfos e glórias, cujos monumentos acreditava, naquele momento, fossem imortais.
Jesus, conhecedor das Leis eternas e imutáveis que regem a vida, percebendo seus pensamentos, respondeu com serenidade e firmeza:
Todos os poderes do teu império são bem fracos e todas as suas riquezas bem miseráveis...
As magnificências dos Césares são ilusões efêmeras de um dia, porque todos os sábios, como todos os guerreiros, são chamados no momento oportuno aos tribunais da justiça de Meu Pai que está no Céu.
Um dia, deixarão de existir suas águias poderosas sob um punhado de cinzas misérrimas. Suas ciências se transformarão ao sopro dos esforços de outros trabalhadores mais dignos do progresso.
Suas leis injustas serão tragadas no abismo tenebroso desses séculos de impiedade, porque só uma Lei existe e sobreviverá aos escombros da inquietação do homem: A Lei do amor, instituída por Meu Pai, desde o princípio da Criação...
Nesses ditos de Jesus, há um singular ensinamento: a transitoriedade das ostentações humanas construídas sob os impositivos da vaidade.
E Jesus tinha razão. Dois milênios após, pouca coisa restou daquele império tido como imortal. Restam hoje apenas algumas ruínas que o tempo se encarregará de extinguir.
Todavia, o tempo não logrará destruir os ensinamentos grandiosos legados à Humanidade pelos cidadãos romanos que se dedicaram em construir patrimônios imperecíveis, não sujeitos às leis da matéria.
* * *
Deus, antes de colocar a Humanidade sobre a face da Terra a enfeitou de belezas naturais, revestiu-a de todos os elementos e recursos necessários ao nosso bem-estar.
Para iluminar o dia, Ele nos deu o Sol, radiação gloriosa. E para clarear as noites salpicou-as de estrelas, como se fossem flores de ouro.
E nós, o que temos para ofertar a Deus, senão o nosso coração?
Mas, longe de enfeitá-lo com alegrias, virtudes e esperanças e permitir que Deus o penetre, só o fazemos quando o luto, as amarguras e decepções nos visitam e nos ferem.
Deixemos a vaidade de lado e ofertemos o nosso coração livre de dores.
Ofereçamo-lo a Deus como homens, de pé, e não como escravos, de joelhos. Lembremo-nos de Deus também nas horas de alegria e felicidade.
Redação do Momento Espírita com base no cap. V, pt.1, do livro Há 2000 anos, do Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb.