O homem certo

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Embora digamos o contrário, ainda guardamos n’alma muito preconceito.

Preconceito de raça, de cor, de religião. Costumamos catalogar as pessoas pela forma como se vestem, como se sentam, como falam.

Quem trabalha com voluntários, já deve ter se surpreendido, mais de uma vez, com resultados de pessoas que pareciam, a princípio, totalmente inadequadas.

A psiquiatra Elisabeth Klüber-Ross narra uma das suas mais positivas experiências.

Ela fora chamada à casa de um homem para uma consulta. Largado em uma cama, totalmente paralisado, incapaz de falar, era um farrapo humano.

Através de um quadro de fala que utiliza para se comunicar com doentes que não conseguem se expressar, a doutora soube do seu drama.

Segundo ele, a esposa estava tentando se livrar dele. Há quatro anos cuidava dele e agora estava fazendo arranjos para o mandar a um hospital.

Ele sabia que tinha poucas semanas de vida. Durante 4 anos ele viu os seus filhos crescerem e isso lhe deu forças para suportar a doença.

Queria que a doutora pedisse à esposa que agüentasse só mais algumas semanas. Ele prometia que morreria logo para não continuar a ser uma carga tão pesada para ela.

Questionada, a esposa, em lágrimas, confessou que estava procurando um internamento, sim. Ela não suportava mais. Estava no fim da sua força física.

Precisava de um homem, dizia. Um homem forte que pudesse ficar com seu marido das 8 da noite às 8 da manhã, para que ela pudesse dormir.

Todos os que já cuidaram de um paciente durante 24 horas por dia sabem que nenhum ser humano consegue fazer isso durante 4 anos, sem exaurir-se.

De toda forma, a dra. Elisabeth pediu que ela tivesse paciência por 5 dias. Nesse período, dispunha-se a encontrar alguém para ajudar.

Era preciso que fosse um voluntário. A família não tinha mais recursos. Nos dias que se seguiram, durante as suas aulas, a psiquiatra começou a procurar o homem ideal.

O tempo estava se esgotando e só o que conseguiu foi um homem que ela achava extremista.

Ele era cheio de manias. Alimentava-se somente de arroz integral e vegetais crus. Viajava de um lado a outro, à procura de gurus.

Sentava-se todo encolhido. Enfim, nada que o credenciasse. Contudo, ele disse: "quero fazer esse tipo de trabalho."

A doutora tentou assustá-lo: "estaria ele disposto a trabalhar 12 horas por dia?

A cuidar de um homem que não consegue falar? Que não consegue escrever nem um bilhete?

Dia e noite? Sem remuneração?"

Ele aceitou todas as condições.

Pois o voluntário que parecia tão estranho, não somente foi trabalhar para aquela família como fez o melhor trabalho que qualquer outro poderia ter feito.

Durante as semanas que antecederam a morte do paciente, ele lhe preparou refeições especiais, massageou-lhe os pés, leu para ele.

Realmente cuidou dele, com carinho, dedicação. Depois da morte do enfermo, ainda permaneceu na casa por mais duas semanas.

Queria ter certeza de que a família ficaria bem.

***

Não se deixe enganar pelas aparências. Nem faça juízo precipitado de quem você não conhece.

Permita que a pessoa possa demonstrar os tesouros que guarda na intimidade.

Dê-lhe um espaço para o trabalho. Permita-lhe a floração.

Se houver necessidade de uma poda, um pequeno arranjo, você poderá providenciar, na seqüência.

Mas não abafe as sementes da bondade que desejam florescer e frutificar no coração das criaturas.

Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no cap. O casulo e a borboleta, do livro O Túnel e a luz da Dra. Elisabeth Kübler-Ross, ed. Verus.