A hora da morte

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De todas as certezas que pode ter o ser humano, a morte é sem dúvida uma delas.

Quem nasce já está fadado à morte. Mensageira estranha, por vezes, abraça antes os mais jovens e os mais sadios, deixando para trás idosos e doentes.

Contudo, sempre chega. Paradoxalmente, é um dos assuntos que quase todo mundo evita tocar.

É por isso mesmo que, quando chega, sempre surpreende.

Também por esse motivo, muitas lágrimas são derramadas sobre os túmulos.

Lágrimas que se casam a exclamações como: "Ah, se eu soubesse que era o seu último dia! Se eu soubesse que ele iria morrer, não teria sido tão mau! Se eu soubesse que ele partiria tão cedo, teria abraçado mais, dito como o amava, sido melhor para ele."

Por tudo isso, é bom considerar que nossa existência é muito efêmera. Hoje estamos aqui, amanhã poderemos não nos encontrar mais deste lado da vida.

O ser amado que se despede para o trabalho diário, pode não retornar. A criança que corre pela rua, rumo à escola, pode não voltar para casa.

Como a irmã daquele menino de apenas 10 anos. Ele entrou em casa e chamou pela mãe.

Ela estava no quarto, sentada, quieta.

"Sua irmã morreu esta manhã, Michael." - foi o que disse.

O conceito de morte não tinha um significado concreto para aquele garotinho.

Durante muito tempo ele perguntava à mãe: "ela vai voltar? Por que ela teve de morrer?"

E ficava em frente à casa, esperando que o ônibus escolar a trouxesse de volta.

Entrava no quarto dela e apanhava a sua pasta escolar. Tudo estava bem arrumado - os cadernos de um lado, os livros do outro, o estojo de lápis no meio.

A faixa preta de elástico que ela usava nos cabelos quando foi para o colégio naquela manhã.

Depois, devolvia tudo certinho no seu lugar. Perguntava-se, se a irmã ficaria zangada por ele ter mexido em suas coisas.

O que ele realmente jamais esqueceria foi o que aconteceu duas noites antes da irmã morrer.

Ele esperou o ônibus que a trazia da escola. Estava preocupada. Esquecera de um trabalho de arte que devia entregar no dia seguinte.

Ele a foi ajudar e juntos fizeram 12 borboletas coloridas, de antenas enroladas e asas triangulares.

No dia em que ela morreu, ele estranhamente despertou mais cedo.

Observou-a se aprontando para a escola.

Como o vão da escada no prédio era muito escuro, ele ficou segurando a porta aberta para que a luz do apartamento a ajudasse enxergar os degraus.

Uma das mãos dela segurava a pasta, a outra balançava, enquanto descia os degraus.

Estava de uniforme azul. Tinha só 14 anos. E suas últimas palavras para Michael foram: "Até logo, irmão."

Passadas mais de 4 décadas, Michael ainda guarda a lembrança de sua irmã.

Quando vê uma borboleta, recorda de imediato daquele último trabalho que fizeram juntos.

E espera. Porque, um dia, ele também fará essa viagem para o grande além.

Nesse dia, finalmente, ele a verá outra vez.

***

Ame muito. Usufrua a companhia dos afetos.

Quando um deles se for, poderá acalentar seus dias com as doces lembranças dos afagos compartilhados.

E isso amenizará sua grande saudade.

Texto da Equipe de Redação do Momento Espírita com base no artigo A despedida, de Michael Tan, da revista Seleções do Reader´s Digest, outubro/2005.