Quem tem poder

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Muito curiosa é a marcha do ser humano em busca do que ele considera uma grande conquista. E dentro desse contexto, está a sede pela posse do poder.

E o poder tem se constituído numa verdadeira obsessão. Em todos os tempos há os que o buscam de forma incessante, incansável e perturbadora.

Há os que desejam o poder do dinheiro, mas a morte os afasta das propriedades e dos cofres abarrotados, para que experimentem, no país da verdade, as realidades da vida.

Há os que espreitam o poder da política terrena, ansiosos, mas a morte os exclui das decisões bem urdidas, dos conchavos escusos, onde se julgavam fortes, imbatíveis, para que possam identificar as realidades da vida.

Há aqueles que se impõem, respeitados por uns, temidos por muitos, dominando exércitos submissos ao seu comando arbitrário, caprichoso; mas a morte arranca-lhes a espada e a lança, fazendo silenciar a sua voz de comando, conduzindo-os ao contato das realidades da vida.

Em tronos de soberba e crueldade, há os que se envaidecem, os que se vangloriam, tendo os ombros recobertos de púrpura, tendo coroas de gemas e ouro sobre atormentadas frontes. A morte, porém, rouba-lhes o cetro, desaloja-os do trono de ilusão e lhes impõe o conhecimento das realidades da vida.

Há muitos que exercem poder sobre familiares indefesos que, frágeis, suportam ameaças, violências físicas e morais, pondo à mostra seu temperamento ácido. No entanto, chega a morte e lhes desarticula da presunção, desarma-lhes a prepotência, arremessando-os para as realidades da vida.

Nenhum poder tipicamente do mundo resiste às transformações que o tempo a tudo impõe.

Em verdade, somente a vida, a vida do espírito imortal, carrega em suas engrenagens as lentes ideais para que se veja e entenda o que realmente existe como força no mundo todo.

A morte, então, é transformada em eficiente mensageira da realidade, com o objetivo de destronar os orgulhosos, de desmascarar os enganados e desmoralizar os hipócritas.

Do mesmo modo, essa mensageira abençoa os que trabalham com honestidade e lucidez nos campos terrenos, permitindo-lhes usufruir da ventura semeada.

A morte, agindo sobre o corpo físico, determina o final das experiências enlouquecidas da alma sobre a terra, fazendo fechar-se o ciclo de abusos, de desmandos, a fim de que o espírito, esse viajante da evolução, possa cair em si, através de meditações profundas, despertando para as realidades da vida.

Quem detém o verdadeiro poder, no mundo, é todo o indivíduo que se acostumou a construir a paz dentro de si, por meio de árduas disciplinas, conseguindo espalhá-la em derredor.

O verdadeiro poder no mundo pertence àquele que trabalha com honradez, calejando as próprias mãos, simbolicamente, ajudando a iluminar as estradas sombrias do planeta.

Somente aqueles que sabem renunciar aos convites dos vícios do mundo, a fim de conquistar as virtudes sublimes que valorizam o íntimo da criatura, é que são reais detentores do mais grandioso poder: o poder sobre si mesmos.

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O poder do mundo é passageiro, é precário, é temporal. O poder do espírito é imorredouro e propicia a verdadeira felicidade a quem o possui.

O poder real é daquele que tudo podendo exigir, torna-se, na terra, o verdadeiro servidor de todos.

(Cap. VI do livro: "Ante o vigor do espiritismo", de Raul Teixeira, ed. Fráter.)