O médico-escritor A J. Cronin conta, em sua obra "Pelos caminhos da minha vida", que, numa noite chuvosa de dezembro, retornou ao seu lar, exausto e decepcionado com a sua profissão.
Embora sua esposa insistisse, ele não quis jantar e tomou somente uma caneca de chocolate. Deitou-se depois e como fervoroso cristão, pediu a Deus na sua prece para que ninguém o incomodasse, naquela noite, com um chamado de urgência.
Adormeceu rapidamente para, logo mais, ser despertado pela campainha do telefone.
Tateando no escuro, agarrou o aparelho e atendeu.
Era uma voz feminina que lhe pedia que fosse até a casa de determinada família para socorrer uma pessoa que se encontrava em grave estado de saúde.
O médico, cansado, disse que iria pela manhã. Naquela noite de tempestade era quase impossível atender o chamado.
A voz aflita insistiu: "trata-se de minha filha, doutor. É a mãe dela quem está falando. Pelo amor de Deus, venha agora."
Impressionado, ele se levantou e saiu. Uma senhora idosa abriu a porta e ele penetrou num quarto mal iluminado e com pouca mobília.
Sobre a cama estava uma adolescente em estado de inconsciência. Um homem de meia idade estava sentado ao lado e parecia velar por ela.
Quando soube que era o médico que ali estava, o mandou embora.
"Muito bem", falou o médico, "mas se sua filha vier a morrer, o senhor já sabe de quem é a culpa."
"Está bem", falou o homem. "então a examine, já que está aqui mesmo."
Depois de um meticuloso exame, o médico descobriu um tumor benigno por detrás da orelha direita da jovem, que estava quase se infiltrando na massa encefálica.
Ali mesmo, o médico realizou a pequena cirurgia de emergência.
Tendo concluído a sua tarefa e após a menina começar a dar sinais de recuperação, ele olhou para a senhora que lhe abrira a porta e lhe disse: "não fosse o seu telefonema me chamando e sua filha poderia estar morta, agora."
O pai da menina, surpreso, falou que aquela senhora era apenas a criada, que nem ao menos falava o seu idioma, que eles não tinham telefone e o mais próximo ficava a vários quilômetros daquela casa.
E acrescentou: "minha esposa morreu, neste quarto mesmo, há 5 anos, porque eu não permiti que se chamasse um médico."
E começou a chorar.
A narrativa do médico-escritor acaba afirmando que, dias depois, se descobriu que quem dera o telefonema fora uma plantonista da agência central telefônica da cidade.
No entanto, ela não soube explicar porque fez aquilo. Alguma coisa a motivara a telefonar, é como se alguém a tivesse inspirado, naquela noite.
***
Todos somos mais ou menos médiuns, mesmo que nem sempre nos demos conta. Por isso, se faz importante a conquista dos valores morais para que sejamos sempre os médiuns do amor, da atenção, da renúncia.
Através de nós, os mensageiros do bem podem agir, beneficiando outros seres, socorrendo-os em suas necessidades.
Mesmo porque as mãos de Jesus, na terra, são as mãos dos homens que se amoldam à lei de amor que Ele veio ensinar e exemplificar.
Equipe de Redação do Momento Espírita, a partir de artigo da revista Presença Espírita, ano XXVII, nº 226, de setembro/outubro 2001, intitulado Um telefonema providencial, de autoria de José Ferraz.