É possível ao homem, pelos seus próprios esforços, vencer suas más inclinações?
Sim, e, por vezes, fazendo pequenos esforços. O que lhe falta é a vontade.
A pergunta foi feita por Allan Kardec, e a resposta foi dada pelos Espíritos Superiores.
É do nosso feitio dizer que as más inclinações são mais fortes que nós. Mas, pela resposta dos Benfeitores, fica claro que a vontade é a alavanca de que necessitamos para vencê-las.
Importa salientemos que vencer as más inclinações não é o mesmo que reprimi-las.
Quando nós as reprimimos elas adquirem mais força e, quando eclodem, fazem estragos ainda maiores.
E assim como não devemos reprimi-las também não devemos deixar que essas paixões extravasem sem controle, senão corremos o risco de sermos tragados por elas.
É certo que não podemos controlar o primeiro impulso, assim como não controlamos certos movimentos corporais como, por exemplo, a abertura e o fechamento das pupilas. Ninguém as abre ou fecha voluntariamente.
No entanto, podemos fazê-las se abrir ou fechar indiretamente, voltando nossos olhos para uma região mais escura ou mais clara.
Assim também ocorre com os impulsos negativos que brotam da nossa intimidade, que podem ser excitados ou inibidos indiretamente.
Dessa forma, se o medo surge, podemos considerar as razões, os objetos ou os exemplos que nos convençam de que o perigo não é grande; que há mais segurança na defesa do que na fuga; que conquistaremos a alegria por termos vencido.
Em contrapartida, poderemos sentir vergonha por termos fugido ou pesar por não termos tentado.
Se diante de uma ofensa surge a mágoa, podemos agir de forma semelhante. O sentimento de mágoa não podemos evitar, mas poderemos inibir a sua ação destruidora em nossa intimidade, combatendo-o.
Para tanto, temos que nos lembrar de coisas que sabemos estar unidas ao perdão e que são contrárias à mágoa.
Podemos, por exemplo, ponderar que o ofensor é uma pessoa infeliz que ainda não conquistou melhores sentimentos; que pode ter agido sob o peso de problemas que desconhecemos; que pode não ter encontrado, na infância, pais devotados e bons que lhe ensinassem a virtude por palavras e atos; que ele colherá frutos amargos de sua ação, sem que sejamos um dissabor a mais em sua vida.
Se agirmos dessa forma diante dos impulsos negativos que nos tomam de assalto, estaremos conquistando a nossa melhoria moral, por nós mesmos, através da substituição dos velhos hábitos.
A proposta Espírita para a Humanidade não é a de proibição ou de repressão das más inclinações, mas a de sublimação dos sentimentos através do autoconhecimento.
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Faz-se necessário que nos libertemos, despindo-nos dos hábitos infelizes e dos sentimentos que nos escravizam, deixando-nos arrastar pelos rios perfumados das emoções nobres e deslizar no barco tranquilo da esperança.
Redação do Momento Espírita com base no artigo As paixões, de Sílvio Chibeni, colhido na Internet.