Com fúria e raiva acuso o demagogo
e o seu capitalismo das palavras.
Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
que de longe muito longe um povo a trouxe
e nela pôs sua alma confiada.
De longe muito longe desde o início
o homem soube de si pela palavra
e nomeou a pedra, a flor, a água
e tudo emergiu porque ele disse.
Com fúria e raiva acuso o demagogo
que se promove à sombra da palavra
e da palavra faz poder e jogo
e transforma as palavras em moeda
como se fez com o trigo e com a terra.
* * *
Instrumento valioso é a palavra, doação Divina para o elevado ministério do intercâmbio entre os homens.
Resultado de notáveis experiências, o homem nem sempre a utiliza devidamente, dominado pela leviandade.
Embora o ser humano, com raras exceções expiatórias, seja dotado do recurso vocálico, somente poucos dele se servem com a necessária sabedoria, de modo a construir esperanças, balsamizar dores e traçar rotas de segurança.
Fala-se muito por falar, matar-se o tempo.
A palavra, não poucas vezes, se converte em estilete da impiedade, em lâmina da maledicência, em bisturi da revolta e golpeia às cegas ao império das torpes paixões.
No entanto, pode modificar estruturas morais, partindo dos ensaios da tolerância às materializações do amor.
Semelhantes a gotas de luz, as boas palavras diluem conflitos, equacionam incógnitas, resolvem dificuldades.
Falando e lutando insistentemente, Demóstenes tornou-se o insigne orador e construtor de conceitos lapidares dos tempos antigos, vencendo a gagueira, qual Webster ante a timidez, nos tempos hodiernos, na América do Norte...
Falando, heróis e santos reformularam os alicerces da idiossincrasia ancestral, colocando alicerces para a era melhor.
Falando, não há muito, Hitler hipnotizou multidões enceguecidas que se atiraram sobre as nações inermes, transformando-as em ruínas, por onde passeavam as sombras dos sofrimentos humanos...
Guerras e planos de paz sofrem a poderosa força da palavra.
De tal forma é importante, que os modernos governantes do mundo, envidando esforços titânicos, modificaram as bases da diplomacia universal, visitando-se reciprocamente para conversar.
A palavra, todavia, deve partir das fontes do pensamento luarizado pelo Evangelho.
Há quem pronuncie palavras doces, com lábios tisnados de fel. Há quem sorria, embora chorando. Há aqueles que falam meigamente, cheios de ira e ódio...
Mas esses são enfermos em demorado processo de reajuste.
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Desculpa a fragilidade alheia, lembrando-te das próprias fraquezas.
Evita censura. A maledicência começa na palavra do reproche inoportuno.
Se desejas educar, reparar erros, não os abordes estando o responsável ausente.
Toda palavra rude, como qualquer censura contumaz, faz-se hábito negativo que culmina por envilecer o caráter de quem com isso se compraz.
Enriquece o coração de amor e banha o cérebro com as luzes da misericórdia Divina e da sabedoria, a fim de que fales, e fales muito, o de que está cheio o coração.
Redação do Momento Espírita com citação do poema Com fúria e raiva, de Sophia de Mello Breyner Andresen, da obra O nome das coisas e do cap. 35 do livro Convites da vida, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.