Foi em uma manhã gelada de domingo, perto das seis horas que, em junho de 1984, Amyr Klink foi oficialmente autorizado a deixar um porto da Namíbia, com destino ao Brasil.
Depois de mais de dois anos de trabalho incessante e muitas dificuldades, ele estava pronto para começar a travessia do Atlântico Sul, remando.
Era um projeto audacioso e muito, muito bem planejado.
Tudo havia sido cuidadosamente estudado e escolhido: a rota, o local de partida, a estrutura e o material do barco, a época do ano em que seria mais viável tal travessia ...
Muitos detalhes, muito trabalho e muitas pessoas dizendo que aquilo não daria certo.
Havia também aqueles que o ajudaram e que o incentivaram.
Porém, no fundo, a responsabilidade e os riscos reais por tal empreitada eram apenas dele, um homem obstinado a alcançar seu objetivo.
Por isso, quando Amyr se viu sozinho no seu pequeno barco, naquela manhã fria, tentando deixar a África para trás, sentiu-se imensamente feliz.
Apesar do medo que o deixava mais branco do que a espuma das ondas, ele estava realmente satisfeito.
Sobre isso ele narra no livro Cem dias entre céu e mar o seguinte:
Era preciso vencer o medo; e o grande medo, meu maior medo na viagem, eu venci ali, naquele mesmo instante, em meio à desordem dos elementos e à bagunça daquela situação.
Era o medo de nunca partir.
Sem dúvida, este foi o maior risco que corri: não partir. (...)
Confiava por completo em meu projeto e não estava disposto a me lançar em cegas aventuras.
Mas não poder pelo menos tentar teria sido muito triste. (...)
Pelo simples fato de estar ali onde estava, debatendo-me entre os remos, xingando as ondas e maldizendo a sorte, me sentia profundamente aliviado.
Feliz por ter partido.
* * *
Mais importante do que ter sucesso nos projetos que traçamos é buscar realizá-los de forma consciente e efetiva.
É necessário traçar as rotas que desejamos seguir, avaliar os riscos e planejar nossas ações.
Não podemos esquecer de examinar com honestidade nossa motivação e os resultados que poderemos obter diante de nossa empreitada.
Afinal, o que queremos fazer?
Aonde queremos chegar?
Para que todo esse esforço?
Para quem?
Se nossos projetos são legítimos, úteis e viáveis, devemos nos lançar em busca da realização dos mesmos.
Sem esmorecer, sem nos deixar naufragar diante das dificuldades e do cansaço.
Tudo que se busca na vida exige esforço e dedicação.
Vitórias que se obtêm sem mérito não satisfazem nossos exigentes corações e nossas incorruptíveis consciências.
Porém, não se pode esquecer que mesmo as jornadas mais longas e duras exigem que se dê o primeiro passo.
Projetos que não saem da mente e do papel não mudam a face do mundo, nem a mentalidade das pessoas.
Sonhos que não ousamos tornar reais jamais serão motivo de alegria verdadeira.
Não tema as ondas bravias da vida nem o vento inclemente.
Trace rotas seguras e faça a sua parte.
É preciso estar a caminho.
É indispensável tentar.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 1 do livro Cem dias entre céu e mar, de Amyr Klink, ed. Companhia das letras.