Jericó era um oásis. O seu clima suave e tépido era propício para fartos pomares, roseirais e palmeiras.
Era ali que morava Zaqueu. Ele trabalhava na aduana. Era um coletor de impostos para o império romano. Também tinha seus lucrativos negócios.
Zaqueu e sua mulher viviam isolados da vida social de Jericó. Quando davam festas, os únicos convidados eram sempre os parentes e os funcionários da alfândega.
Extremamente rico, ele tinha uma consciência de inferioridade, face ao tratamento que recebia do seu povo. Todos o desprezavam porque trabalhava para o opressor romano.
Sua consciência lhe dizia que nunca prejudicara a ninguém, pois que procurava ser justo.
Então, às vésperas da Páscoa, se espalhou a notícia de que o Rabi da Galiléia, a quem chamavam Jesus de Nazaré, chegaria à cidade.
Zaqueu já ouvira falar Dele e uma secreta simpatia o invadira. Aquele era o Homem que dizia que todos deveriam se amar como irmãos, que comia à mesa dos publicanos e Se misturava com o povo.
Junto a numerosas pessoas, Zaqueu foi receber Jesus à entrada da cidade.
De pequena estatura, gordo, pernas curtas, por mais se pusesse na ponta dos pés, não conseguia ver coisa alguma.
Ofereceu moedas a um homem para que lhe vendesse um jumento. Pensou que subindo nele, talvez pudesse enxergar.
Mas o homem desprezou o seu dinheiro.
Pediu a um homem muito alto que o erguesse, em troca de sua bolsa cheia de moedas. Em vão.
Empurrado e pisado pela multidão, finalmente Zaqueu conseguiu ver, à beira da estrada, uma árvore.
Era uma mistura de figueira e amoreira, um sicômoro, com raízes grossas para fora da terra.
Mais do que depressa, nela subiu e sorriu feliz. Dali, ele podia ver o Mestre se aproximando.
E uniu a sua voz a de todos os demais, gritando hosanas a Jesus.
Quando o Mestre passou pela árvore, olhou para cima e ao ver aquele homem agarrado aos galhos, como se fosse um fruto, lhe disse:
Zaqueu! Desce depressa, porque hoje me convém pernoitar em tua casa.
O homem desceu presto, correu para casa, para junto com a mulher preparar o melhor para o conviva.
Na sua intimidade dizia que não era digno que criatura de tão nobre estirpe entrasse em sua casa.
Mentalmente, reviu os negócios. Teria lesado alguém? Teria recebido a mais?
Talvez tivesse comprado terras a preço irrisório e as vendido com lucro excessivo. Sente-se atormentar.
Quando observa o Amigo chegando, acompanhado por grande multidão, Zaqueu vai ao encontro Dele e exclama:
Senhor, eis que dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado! Entra na minha casa!
Jesus sorriu, um riso leve e bom como um sopro de amor.
Hoje - disse suave - veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.
Narram tradições evangélicas que, anos mais tarde, Simão Pedro convidou o antigo publicano a dirigir florescente comunidade cristã, nas terras de Cesaréia.
E Zaqueu, rico de amor e humildade, foi servir a Jesus, servindo aos homens.
* * *
No exemplo desse rico homem se encontra o que costuma acontecer no cotidiano das pessoas, no mundo.
São muitos os ricos e poderosos da Terra, que aguardam por Jesus, nas estradas amarguradas em que estão.
Não são poucos os que conduzem o bem escondido em si mesmos.
Bem que ficou abafado pelos convencionalismos terrenos e que esperam uma oportunidade para ser ativado e servir.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 18 do livro Vida e mensagem, do Espírito Francisco de Paula Vitor, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter.