Na velha Jerusalém, numa manhã clara do ano 35, vamos encontrar um moço israelita de singular beleza e austeridade.
O jovem Saulo representava toda a vivacidade de um homem solteiro, que contava cerca de 30 anos de idade. Possuidor de temperamento apaixonado e indomável, trazia no coração a Lei de Moisés.
Trajando a túnica do Patriciado, falava de preferência o grego, a que se afeiçoara na cidade natal, no convívio com mestres amados, trabalhados pelas escolas de Atenas e Alexandria.
Defensor ardoroso da Lei Moisaica, desejava submeter Roma e Atenas aos seus princípios.
Foi nessa época que Saulo de Tarso iniciou a perseguição acirrada aos seguidores do Carpinteiro de Nazaré.
Cego pelo orgulho de raça e julgando-se protetor da integridade do judaísmo dominante, não aceitava as idéias de fraternidade e humildade ensinadas pelo Cristo e disseminadas pelos discípulos galileus.
Adentrou no pavilhão singelo, nas cercanias de Jerusalém, onde pôde ouvir as pregações do jovem cristão chamado Estêvão, a falar aos pobres e miseráveis, que o ouviam atentos e esperançosos.
Entendendo constituir-se uma afronta aos ensinos de Moisés, envidou esforços para punir todos quantos se dissessem seguidores do Carpinteiro crucificado pelo Sinédrio, pouco tempo antes.
Alguns dias depois, tombava Estêvão, o primeiro mártir do Cristianismo, a golpes de pedradas e zombarias, diante do tribunal implacável dos donos do poder temporário, do qual o jovem Saulo fazia parte.
O Doutor da Lei, pregador eloquente e convicto, não demorou a convencer o Sinédrio da necessidade de eliminar os Homens do Caminho, como eram chamados, inicialmente, os seguidores do Cristo.
Iniciou-se, então, a perseguição aos cristãos, na tentativa de apagar para sempre as ideias do Sublime Galileu.
Investido dos poderes necessários, Saulo rumou para Damasco, onde, segundo informações, estaria Ananias, o velho pregador do Cristianismo.
Seguido por pequena caravana, o Doutor da Lei se deslocou de Jerusalém para a extensa planície da Síria.
Saulo seguia pensativo, meditava sobre a serenidade do jovem Estêvão, entregando-se ao martírio por amor ao Sublime Crucificado.
Em dado instante, todavia, quando mal despertara das angustiosas cogitações, sentiu-se envolvido por luzes diferentes da tonalidade solar.
Diante de tal situação foi tragado por inevitável vertigem e tombou do animal sobre a areia ardente.
Uma luz, mais intensa que a luz do sol, lhe banhou os olhos deslumbrados. Viu, então, surgir a figura de um Homem de majestosa beleza, dando-lhe a impressão de que descia do céu ao seu encontro.
Os olhos compassivos, imanados de simpatia e amor, iluminavam a fisionomia grave e terna, onde pairava uma Divina tristeza...
O Doutor de Tarso contemplava-O com profundo espanto, quando, numa inflexão de voz inesquecível, o desconhecido falou:
Saulo!... Saulo!... Por que Me persegues?
O moço de Tarso postou-se instintivamente de joelhos diante daquele vulto divino e interrogou em voz trêmula: Quem sois vós, Senhor?
Aureolado de uma luz balsâmica e num tom de inconfundível doçura, o Senhor respondeu:
Eu sou Jesus!...
Daquele dia em diante, o jovem tarsense, deixando-se penetrar pelo profundo amor de Jesus Cristo, passou de perseguidor a defensor ardoroso do Evangelho.
Lutou e amou...
Humilhando-se, suportou o desprezo dos antigos amigos. Foi preso e apedrejado. Sofreu no rosto a saliva odienta dos orgulhosos e iludidos dos caminhos do mundo. . .
Mudou seu nome de Saulo para Paulo de Tarso e foi o pioneiro nas viagens de pregação do Evangelho, nos primeiros tempos do Cristianismo.
Conhecido como o Apóstolo dos Gentios deixou, em suas várias epístolas, um legado de amor e fidelidade ao Cristo Redentor.
Redação do Momento Espírita, com base no livro Paulo e Estêvão, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb.