Quem é o nosso próximo? Eis uma interrogação que ainda permanece para muitos, apesar dos séculos transcorridos, desde as explicações do Mestre Jesus na Parábola do Samaritano.
Por falta desse entendimento, por vezes deixamos de atender a um ou outro, crendo não ser nossa responsabilidade.
Possivelmente, no século XX, uma das criaturas que melhor tenha entendido sobre a identidade do próximo tenha sido a religiosa Madre Teresa.
Erigindo o Lar das Missionárias da Caridade, passou a atender os pobres mais pobres, iniciando em Calcutá, na Índia.
Conta-se que, num cair de tarde, em Calcutá, quando as ruas repletas, o trânsito confuso e as luzes da cidade a todos atraíam a atenção, ela e mais duas companheiras se dirigiram a um beco isolado, entre escuras vielas.
Naquele local, o turbilhão dos sons das buzinas, dos escapamentos dos carros e o burburinho das pessoas não chegavam senão como apagado eco.
O que ali havia eram somente os gemidos surdos dos que foram esquecidos pela multidão.
As três mulheres se aproximam do local. Os odores vindos do beco não as espantam. Em nome da fraternidade, rumam sempre mais adentro.
Teresa percebe a figura de um enfermo. É um homem, carcomido pelo câncer. A doença lhe devorara quase metade do corpo. Por todos era considerado um caso perdido.
Teresa se aproxima e começa a lavá-lo. A reação do enfermo é de desdém. Ele pergunta: Como você consegue suportar o mau cheiro do meu corpo?
Ela não responde, apenas sorri, prosseguindo na sua tarefa, com extrema delicadeza, como se estivesse a banhar um recém-nato.
A senhora não é daqui, fala o doente outra vez. Ninguém por aqui age como a senhora.
Os minutos passam e o enfermo está agora limpo. Ante a dor que lhe agonia as carnes, numa típica expressão indiana, exclama: Glória a ti, mulher!
Não, responde Madre Teresa. Glória a você, que sofre com o Cristo.
Ele sorri. Ela também. Uma sensação de alívio se estampa na face do doente terminal. As Missionárias da Caridade o recolhem no lar que, para tais criaturas, edificaram em Calcutá.
Dois dias depois, entre atenções e preces, em um leito asseado, o moribundo despede-se da vida física.
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O próximo é sempre aquele que tem a necessidade mais premente, no momento. Por vezes, é o próximo mais próximo, no próprio lar, na vizinhança, no ambiente de trabalho.
De outras, é alguém que aguarda o gesto de amparo do Samaritano que transite por onde ele se encontra.
Partir em busca da dor para acalmá-la é atitude de quem se assenhoreou das palavras do Evangelho e tendo-as abrigado na intimidade do ser, vive-as na essência.
Nem sempre os maiores necessitados são os que buscam socorro, desde que outros não o fazem por vergonha ou por não disporem de condições mínimas para a solicitação.
São os acamados que permanecem em seus casebres, os deficientes da fala que não conseguem se expressar, e tantos outros...
O próximo é o nosso irmão, ao nosso lado ou distante, desde que somos todos filhos do mesmo Pai.
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Madre Teresa de Calcutá estendeu o seu trabalho de amor por quase todo o mundo.
A convite dos governantes de diferentes nações, ela abriu suas casas de caridade nos mais distantes países.
Assim, a meta das Missionárias da Caridade e de suas colaboradoras é buscar a dor onde se asile e atender o carente mais carente.
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Vozes do Espírito, publicado no Boletim SEI nº 1549 de 06/12/1997.