Em determinada parábola, Jesus compara o Reino dos Céus a um tesouro oculto no campo.
Ele afirma que um homem achou e escondeu um tesouro.
Depois, tomado de regozijo, vendeu tudo o que possuía e comprou aquele campo.
A lição é por demais clara: quem tem a ventura de achar o Reino dos Céus não hesita em dispor de todos os seus bens para adquiri-lo.
Esse tesouro é apenas a alma humana, em sua plenitude evolutiva.
Afinal, em outro trecho do Evangelho, Jesus afirma que o Reino dos Céus está dentro de nós.
Ou seja, o Reino dos Céus não é um local no espaço, mas algo que se constrói no íntimo do ser.
Em geral, o homem procura edificar sua felicidade sobre coisas materiais.
Ele entende que ser feliz depende de riqueza, beleza, fama e saúde.
Entretanto, tais bens, conquanto desejáveis, são precários e incertos.
Eles duram, no máximo, uma existência física, que raramente ultrapassa 70 anos.
Ainda assim, um incêndio, uma enchente, uma quebra da bolsa ou alguns poucos micróbios podem fazê-los desaparecer.
Para milhões de criaturas permanece oculto o real tesouro que podem possuir.
Ele consiste nos dons espirituais e nos gozos inefáveis que propiciam.
Tais bens são os únicos valores reais e duradouros, que acompanham para sempre a criatura que deles se apossa.
Trata-se da compaixão, da pureza, da dignidade, do amor ao trabalho, da humildade, dentre outras virtudes cristãs.
A vivência dessas virtudes proporciona paz e ventura em níveis inimagináveis por quem ainda não as desenvolveu.
Elas representam o tesouro que nenhum ladrão pode roubar.
A ventura que propiciam não depende de elementos externos.
Há o exemplo notório dos mártires dos primeiros tempos do Cristianismo.
Eles afrontaram as feras no circo com o semblante luminoso e entoando hinos de louvor.
Ao contrário do que talvez pense o homem mundano, não se tratava de fanatismo.
Eram apenas criaturas que sabiam das realidades espirituais.
Ante a glória da espiritualidade que se avizinhava, os prazeres terrenos nada representavam.
Por isso, não hesitaram em sacrificar a própria vida em defesa do ideal que esposavam.
Tal é o sentido da parábola, quando diz que o homem se desfez de tudo para adquirir o campo onde o tesouro estava.
Não se cuida de menosprezar os bens terrenos, mas de entendê-los meros instrumentos de construção do bem real.
De nada vale enriquecer à custa de indignidades.
Ao contrário, se para viver de forma honrosa e solidária for necessário empobrecer ou fazer sacrifícios, vale a pena.
Pense nisso.
Redação do Momento Espírita com base no cap. IV do livro Parábolas evangélicas, de Rodolfo Calligaris, ed. Feb.