Ele era um copista, profissão muito importante naqueles idos dos anos trezentos.
Teódulo é seu nome. Atado ao poste, recebe o suplício. Desejam que confesse.
O magistrado lhe aponta um rolo de pergaminho e deseja que ele confirme que a letra é sua, que ele copiou aquelas folhas. Deseja mais: quer saber para quem as copiou, quando e por quê?
Teódulo não reconhece a letra. Não copiara aqueles textos e não sabe a quem pertencem.
Decidem os juízes lhe dar um tempo para ele examinar os textos e se certificar de que os redigira ou então, identificar o copista.
No decorrer das horas seguintes, Teódulo absorve-se na leitura das folhas.
Demora-se no exame das passagens grafadas carinhosamente e atribuídas a um tal de Levi. Mateus, em grego.
Ele sente carência de alimento e água, contudo, sente-se transposto a uma espécie de céu interior.
Está ali o mais belo legado que um pensador poderia deixar à Humanidade. É a fórmula para a reforma e a libertação dos homens.
Os seus algozes retornam à tarde e o levam outra vez ao interrogatório.
Teódulo ergue a fronte e, com coragem, exclama:
Senhor Procurador, mais uma vez vos afirmo que não sou o responsável por esta cópia.
No entanto, o texto grafado é tão nobre e de tamanha dignidade que eu me sentiria honrado em esmerar-me na sua transcrição.
A confissão lhe valeu ser levado desnudo ao poste do suplício. Se o exame comparativo com outros trabalhos seus atesta a sua inocência, ele tivera a ousadia de desacatar a autoridade e necessitava ser punido.
O açoite lhe corta as espáduas. Seus músculos estremecem. O suor abunda e o sangue lhe corre pelo corpo.
Com a cabeça pendida, Teódulo pensa:
Até que ponto se pode sofrer pela verdade?
A noite devora a paisagem. Liberto, ele se levanta e vai em busca do local onde se reúnem os homens do Caminho.
Entra discretamente e ouve com interesse.
Aquela mensagem é sua também, pois ele sofrera por ela.
Cerra os olhos. Mente e coração se unem numa súplica:
Jesus, hoje eu tenho a Te oferecer as minhas feridas ainda frescas. Que as Tuas palavras em meu Espírito durem o que as cicatrizes durarem.
* * *
Jesus em nossas vidas é sempre um marco divisor entre o antes e o depois.
Ante Sua mensagem não há quem possa permanecer indiferente.
Uns a repelem e perseguem os que a divulgam.
Outros a abraçam e, mesmo em meio às dores e dificuldades, conquistam a felicidade desde o hoje.
Jesus é sempre o estuário da tranqüilidade, o arquipélago da paz.
* * *
Atribui-se a Mateus a escrita do primeiro Evangelho de Jesus.
Ele foi escrito em língua hebraica e o próprio Mateus o traduziu, em seguida, para o grego.
Evangelho quer dizer Boa Nova.
O autor, Mateus, prova, pelo que escreve, que foi testemunha ocular e contemporâneo de Jesus.
Redação do Momento Espírita com base no cap. Teódulo, do livro Esquina de pedra, de Wallace Leal Rodrigues, ed. O Clarim.