Eles eram jovens, amáveis e simpáticos. Seus semblantes irradiavam alegria. Amavam-se com esse primeiro amor que se assemelha a uma árvore florida que espera a estação propícia para se transformar em um celeiro de frutos.
Uniram-se por amor. Ele era um modesto empregado e ela costureira. Viram-se e se amaram. Amaram-se e se uniram.
Ao se unirem, logo pensaram na bênção de um primeiro filho. A moça, olhando gravuras de querubins, pediu a Deus que lhe desse um filho tão lindo como uma daquelas figuras angelicais.
Um ano se passou. O amoroso par juntou economias e preparou o necessário para vestir um recém-nascido.
Ela costurou roupinhas de cambraia com preciosas rendas, conjuntos brancos com finos bordados, gorros, tudo de mais belo e delicado para receber o seu bebê.
Esperaram o filho que imaginavam belo e que deveria chegar pedindo beijos com seus sorrisos.
Enfim, chegou o momento do parto. Áurea sentiu as primeiras dores e depois de um laborioso período deu à luz um menino.
Logo quis vê-lo, mas seu esposo e as pessoas que a rodeavam simplesmente a olhavam com tristeza.
Entre si trocavam olhares melancólicos e cochichavam algo que ela não conseguia entender.
Por fim, depois de insistir, Àurea acabou por gritar: "Vocês não me escutam? Quero abraçar meu filho. Por acaso está morto?"
"Não", disseram-lhe. "É que...o menino não tem braços, nem pernas!"
Áurea estendeu os próprios braços e respondeu com ansiedade:
"Pois tragam-no. Se não tem braços, nem pernas, ele estará mais tempo em meus braços."
O menino era lindo. Olhos azuis, expressivos, cabelos louros muito abundantes. Os pais o amaram. Mas o pai, quando sua esposa não podia ouvir, dizia com profunda amargura:
"Eu queria tanto um filho. E ele veio sem braços nem pernas. Que grande injustiça cometeu Deus para comigo. Se ao menos eu fosse rico, mas sou tão pobre!"
Ante um quadro tão doloroso, a Doutrina Espírita nos oferece profundas elucidações, através da lei dos renascimentos, da tese das múltiplas existências, da lei de causa e efeito.
Ela nos permite abrir uma porta para o nosso ontem, o nosso passado, dentro da História da Humanidade terrestre.
Em O livro dos espíritos, os mensageiros espirituais esclarecem a grande questão do sofrimento, da dor, da enfermidade, afirmando que não são fatores propostos pelo Criador, mas conseqüências das violações de Suas Leis.
Assim, de acordo com a natureza das faltas cometidas pelo Espírito, ele mesmo escolhe as provas que queira sofrer.
Provas que o levem à expiação das faltas cometidas e a progredir mais depressa.
Deus, na Sua justiça, permite que o culpado retorne ao cenário onde delinqüiu, para a retificação dos seus erros.
E como ensinou Jesus "Se teu olho for causa de escândalo, arranca-o e joga-o fora", as deficiências e mutilações do hoje retratam exatamente a qualidade dos desacertos do ontem.
Mas, como Deus é justiça e também misericórdia, permite que almas devedoras nasçam junto a corações amorosos que as aceitam e as ajudam com devoção, em sua trajetória de resgates e dores.
Por isso mesmo, é comum encontrarmos mães carregando filhos que não andam, sem lamentar o esforço que realizam.
Mães que vivem com filhos de ouvidos e lábios fechados e que, no entanto, lhes falam à acústica da alma, dizendo-lhes do seu amor.
Mães que recebem filhos deficientes de toda ordem e que a eles se dedicam, heroínas anônimas, com desprendimento e amor.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Sem braços e sem pernas, do livro Reencarnação e vida, de Amália Domingo Soler e nos itens 258 e 264 de O livro dos espíritos, de Allan Kardec, ed. Feb.