A pesquisadora norte-americana Deborah Tannen dedicou dois anos de sua vida a uma tarefa curiosa: ouvir diálogos familiares.
Referência internacional no estudo da linguagem humana, ela queria entender por que se briga dentro de casa.
Com o auxílio de sua equipe, escutou centenas de conversas cotidianas. Em alguns casos, casais, filhos, pais e mães carregaram um gravador durante uma semana.
A partir desse material, Deborah analisou como as palavras ditas e as não ditas podem disfarçar movimentos para aprisionar o outro ou exercer poder sobre ele. Quando o não quer dizer sim, e vice-versa.
Ela acredita que, ao entender essas mensagens ocultas, é possível desfazer conflitos persistentes e driblar novas crises domésticas.
Evitar, principalmente, que o diálogo evolua para a hostilidade e provoque mágoas.
O resultado está no livro só estou dizendo isso porque gosto de você, best-seller nos Estados Unidos.
Deborah Tannen foi entrevistada por uma revista brasileira, e deu respostas muito oportunas, das quais reproduzimos algumas:
Por que as conversas familiares podem ficar tão ásperas?
Deborah responde: "porque há muito em jogo. Nós esperamos mais consideração dos parentes do que de amigos ou colegas.
Reagimos mais aos julgamentos da família porque sentimos como se fossem da suprema corte, avaliações inquestionáveis de nosso valor. As conversas são carregadas pela herança de todos os diálogos que tivemos antes.
Isso é transmitido pelo tom de voz, pela expressão facial e pelos pressupostos não ditos."
Como eles nos atingem?
A resposta de Deborah: "imagine um casal diante do menu, no restaurante. Quando o homem anuncia que vai escolher um filé com fritas, a mulher diz: reparou que eles também têm salmão? o homem protesta: pare de criticar o que eu como.
Ela se defende: eu não critiquei. Só mostrei um prato que podia lhe agradar. A razão do desentendimento, ao nível do que é dito, é que a sugestão da mulher não era uma crítica.
Mas o homem sabe que ela está falando de seus excessos com carne vermelha.
A impressão de desaprovação vem da mensagem oculta, baseada na história comum do casal. Entender isso evita que discussões repisem os mesmos pontos."
Podemos evitar as mensagens ocultas?
"É impossível", diz Deborah. "o mais importante é aprender a pesar como nossas intervenções poderão ser interpretadas pelos outros.
Quando você oferece um conselho ou uma orientação, mesmo repleto de boas intenções, o que é dito arrisca ser recebido como crítica.
Boas intenções não mudam um pressuposto básico: se a outra pessoa não estivesse fazendo algo errado, não precisaria de conselho.
A crítica está implícita no ato de oferecer a sugestão. Não há como escapar quando o conselho parte do pai para o filho, da mãe para a filha ou do irmão mais velho para o caçula."
Ainda sobre mensagens ocultas, a escritora diz: "costumo citar uma conversa travada por um casal em uma viagem de carro. Num certo momento, a mulher pergunta: você gostaria de parar para beber algo?
O marido responde, com toda sinceridade: não. E segue adiante. Mais tarde, ele fica frustrado ao descobrir que a mulher queria ter parado e estava aborrecida. Pensa: por que ela simplesmente não disse o que queria?
Mas a mulher estava chateada, não porque tinha ficado com sede, mas porque sua preferência não foi levada em conta. Ela havia mostrado consideração com a opinião do marido, mas ele não tinha feito o mesmo com ela.
Para entender o que deu errado, o homem deve aprender que, quando uma mulher pergunta o que ele quer, não está pedindo uma informação, mas dando início a uma negociação sobre o que os dois gostariam de fazer.
Por outro lado, a mulher deve saber que, quando o marido responde sim ou não, ele está apresentando uma vontade negociável."
Analisando as considerações de Deborah Tannen, podemos entender alguns dos motivos de desentendimentos familiares e buscar saber mais sobre como podemos evitá-los.
Importante é saber que sempre existe uma solução para quem deseja encontrá-la.
Pensemos nisso!
Equipe de Redação do Momento Espírita, com base em matéria de Alexandre Mansur, publicada na revista Época de 06/12/2004.