Dever e fantasias

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Em sua busca pela felicidade, o homem não raro embrenha-se em caminhos tortuosos.

É freqüente a confusão entre ser feliz e realizar fantasias.

Para a criatura irrefletida pode parecer necessário que todos os seus sonhos se concretizem, para que ela se considere plena.

Ocorre ser a felicidade, sob esse enfoque, uma utopia de impossível efetivação.

O ser humano é ilimitado em seus devaneios e fantasias.

Realizado um projeto, surge logo outro, mais ambicioso.

Se é a falta da casa própria que infelicita, após sua aquisição, com freqüência, deseja-se outra maior.

Ao desejo de possuir automóvel em bom estado, sucede o anelo de adquirir um carro do ano.

Quem tem casa e carro, por vezes almeja viajar ou garantir a faculdade dos filhos.

Idêntico fenômeno dá-se nos mais variados quadrantes da existência.

É o desejo de notabilizar-se na carreira, freqüentar o melhor clube da cidade, possuir roupas luxuosas ou jóias.

Muitos desses desideratos são legítimos, mas sempre surge algo novo a ser buscado e nem tudo que se deseja acontece.

Se for necessário realizar todos os sonhos para o homem se sentir pleno, a frustração será sua constante companheira.

Por outro lado, ao desavisado pode parecer que tudo é legítimo para alcançar suas metas.

Talvez toda dificuldade seja considerada uma desgraça, um obstáculo a ser removido a qualquer preço.

Se o casamento não vai bem, pode parecer melhor terminá-lo de vez, para encontrar outra pessoa que seja ‘perfeita’.

O familiar doente ou de difícil convívio quiçá se afigure alguém a ser evitado a todo custo, sob o falso pretexto de preservar a própria paz.

Ora, a infantilidade e a superficialidade desse modo de viver são por demais óbvias.

O progresso é uma das leis da vida, e o homem é sempre chamado a burilar-se, aperfeiçoar-se, tornar-se melhor e mais forte.

As dificuldades têm a finalidade de ajudar a desabrochar o anjo que em todos reside, mediante o exercício das virtudes cristãs.

Felicidade não é sinônimo de cofres cheios, vaidades satisfeitas, absoluta ausência de problemas e desafios.

O Cristo, modelo e guia da humanidade, afirmou que oferecia sua paz, mas que a cada qual seria dado conforme suas obras.

Também disse que quem quisesse deveria tomar sua cruz e segui-Lo.

Os obstáculos, os desejos não realizados, as limitações têm o objetivo de sensibilizar-nos para a beleza da mensagem do Cristo.

Eles nos auxiliam a valorizar o que é eterno, em detrimento do transitório.

A conquistar, mediante o abandono das ilusões, a tão sonhada paz: o tesouro colocado onde ninguém pode roubar.

Felicidade, pois, não é ter tudo o que se quer, mas estar em harmonia com a própria consciência e com as leis divinas.

Entre concretizar uma fantasia e atender as próprias obrigações, o homem sensato não pode titubear.

Se um sonho demandar, para realizar-se, violação de nobres compromissos assumidos, ou não se amoldar a uma consciência tranqüila, é melhor desistir dele, por mais sedutor que seja.

Consciência pesada é algo inconciliável com a plena realização do ser.

Não há felicidade sem paz e não há paz sem deveres rigorosamente cumpridos.

Pensemos nisso!

Texto da Equipe de Redação do Momento Espírita.