Conta-se que um açougueiro atendia suas atividades habituais, quando adentrou o estabelecimento um cachorro.
Ele se preparou para enxotá-lo, quando percebeu que o animal trazia um saco à boca.
Verificou que, dentro do saco, havia um bilhete. Atendeu o que estava ali escrito, devolvendo ao cão o saco, com carne bem acondicionada e troco dos valores que encontrara.
O animal, com o saco à boca, saiu tranquilamente do açougue e foi andando pela calçada. O açougueiro ficou intrigado: De quem seria aquele cão tão bem treinado?
Resolveu segui-lo. O cão chegou na esquina, levantou-se nas patas traseiras e apertou o botão do semáforo para travessia de pedestres, parando o trânsito de veículos.
Então, atravessou a rua, na faixa de pedestres. Mais adiante, outro semáforo estava vermelho e o cão parou. Quando o sinal ficou verde, o cão atravessou a rua.
Chegou a um ponto de ônibus e esperou.
Quando o primeiro ônibus parou, o cão olhou para o letreiro e não entrou.
Quando outro ônibus parou, um pouco depois, o animal voltou a olhar o letreiro. Dessa vez, entrou e ficou perto da porta, acompanhando o trajeto com atenção.
O homem do açougue estava perplexo. Nunca vira nada igual.
Depois de várias quadras, o cão desceu do ônibus e andou um pequeno trecho.
Frente a uma casa, abriu o pequeno portão e entrou. Parou frente à porta e começou a bater com a cabeça na madeira.
Depois, foi à janela e tornou a bater a cabeça contra o vidro, várias vezes.
Finalmente, a porta se abriu. Um homem grande e zangado veio para fora e começou a agredir o cão, chamando-o de bobão, inútil, traste.
O açougueiro não aguentou. Deteve a agressão e falou ao dono do cão:
Que é isto? Você tem um animal extraordinário, treinado, inteligente e o agride desta maneira?
Inteligente? - gritou o dono. Ele é um tonto. Já falei um milhão de vezes e este inútil vive esquecendo de levar a chave da porta.
* * *
Naturalmente, o conto é fictício. Pode levar ao riso. Ou podemos parar um momento e reflexionar.
Quantas vezes agimos como o dono desse cão? As pessoas nos servem, nos agradam e nós... Só reclamamos.
Reclamamos da mãe que não nos preparou a sobremesa que pedimos.
E esquecemos de agradecer a roupa limpa, impecável, no armário; os pratos preparados com esmero; as frutas, o suco, o cereal no café da manhã.
Reclamamos dos pais que não entendem nossos sonhos, nosso papo, nossa turma legal.
E não lembramos dos braços que nos carregaram, depois das brincadeiras, na praia; das horas exaustivas de trabalho deles para nos garantir a escola, o lazer, as viagens.
Reclamamos do funcionário que não atendeu uma ordem, em todos os detalhes.
Não lembramos das mil coisas que ele faz todos os dias, sem errar, diligente, atento, vendendo sempre muito bem o bom nome da nossa empresa.
Reclamamos sempre, numa atitude tola de quem não tem capacidade de avaliar o real valor dos que nos cercam.
Pensemos nisso e tomemos ciência, primeiro, de que, por vezes, nos tornamos pessoas um tanto desagradáveis, com esse tipo de atitudes.
Segundo, perguntemo-nos se nós mesmos faríamos melhor. É possível que a nossa incapacidade, preguiça ou acomodação nos digam que estamos reclamando, de verdade, por nos darmos conta de como somos dependentes dessas criaturas...
Pensemos nisso e foquemos de forma diversa a nossa apressada e tola avaliação.
Redação do Momento Espírita, com base em conto de autoria desconhecida.