Livraria 18 de Abril

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Pessoas e potes de geléia

   

Transformamos as pessoas em potes de geléia.

Sim, toda vez que julgamos precipitadamente, que criamos rótulos, estamos comparando as pessoas a objetos.

Objetos podem, muitas vezes, ser facilmente explicados, descritos, compreendidos. Basta um desenho, um esquema, ou algumas palavras e está tudo resolvido.

Ficaram famosos os jogos de mímica, nos quais os oponentes precisam adivinhar uma palavra, uma frase, através da compreensão dos gestos do outro.

O problema está quando desejamos usar esta nossa habilidade de descrever rapidamente alguma coisa, no convívio com as pessoas.

Pessoas são Espíritos, almas complexas, de realidades múltiplas e possibilidades infinitas.

Avaliá-las com superficialidade é desrespeitá-las em sua essência divina.

O grande escritor russo Léon Tolstoi, afirma que um dos nossos preconceitos mais comuns e disseminados, é o de que cada pessoa tem uma característica fixa.

Segundo ele, tal preconceito faz com que existam apenas pessoas boas ou pessoas más; pessoas inteligentes ou pessoas estúpidas; pessoas frias ou pessoas quentes.

Aí começam os rótulos.

Muitas vezes, com o objetivo de simplificar, nós empobrecemos e menosprezamos as pessoas.

Até nossos hábitos de linguagem precisam ser revistos, pois muitos deles já nos acostumam ao rótulo fácil.

Você lembra de Fulano de tal? - Não, não lembro. - responde o outro.

Aquele magrinho com nariz pontudo, lembra?

Ah, sim, claro, agora lembrei!

Pois aí está o embrião do vício dos rótulos.

Pode ser uma observação sem maldade, que apenas ajude a lembrar mais facilmente das pessoas, mas, por vezes, já desenvolve em nós esta prática desagradável.

Mais um pouco e estamos no nível de observações como: Beltrano é falso mesmo. Cuidado com o que ele diz!

Obviamente que podemos identificar as dificuldades das pessoas. É algo comum da vida de relacionamento.

Mas, avaliar toda uma personalidade, todo o universo de um Espírito encarnado, e resumi-lo em uma frase, em um rótulo, é pequeno e simplista demais.

Além de ser desrespeitoso.

Aplicando um rótulo a alguém, principalmente os negativos, estamos dizendo que ninguém é capaz de mudar, de crescer.

Estamos dizendo que a pessoa é assim e pronto.

Chegamos a aplicar rótulos a nós mesmos, por vezes.

Colamos na testa um adesivo dizendo: Sou teimoso. Não pense em vencer qualquer discussão comigo.

É uma auto-rotulagem, uma expressão de acomodação perante uma imperfeição, da qual, muitas vezes chegamos a nos orgulhar.

Até mesmo os rótulos positivos são preocupantes.

Quando, por exemplo, aquele amigo que carregava em sua fronte o rótulo de bonzinho, faz conosco algo que mostra uma característica oposta a essa, vem a decepção.

Nunca esperava isso dele ou dela... - expressão típica de quem não conhece o outro em profundidade, e que preferiu ficar na superficialidade da rotulagem.

Todos ainda somos almas sendo automoldadas a todo instante.

Nem temos imperfeições fixas, eternas, que ficarão para sempre conosco, nem virtudes em grau de excelência, que não nos permitam o equívoco em situação alguma.

Lembremos: rótulos são para potes de geléia, e não para pessoas.

Redação do Momento Espírita, com citação de Léon Tolstoi, extraída do livro Pensamentos para uma vida feliz, de Tolstoi, ed. Prestígio, 1999.